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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A origem do Natal

Roberto de Queiroz


O Natal é celebrado anualmente em alusão ao aniversário de nascimento de Jesus. A Igreja Católica comemora a data em 25 de dezembro, e a Igreja Ortodoxa, em 7 de janeiro. Porém essas não são as prováveis datas do nascimento de Cristo. Quando Ele nasceu, “havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos” (Lucas 2:8).[1]Isso nunca aconteceu na Judeia durante o mês de dezembro: os pastores tiravam seus rebanhos dos campos em meados de outubro e os abrigavam para protegê-los do inverno que se aproximava, tempo frio e chuvas” (CLARKE, 1977, p. 370).

A festa do Natal não estava inclusa entre as primeiras festividades da Igreja Católica. Os primeiros indícios dessa festa são provenientes do Egito. Naquele país, os costumes pagãos relacionados com o princípio do ano se concentravam na comemoração do Natal.  Ademais, de acordo com Orígenes, um dos chamados pais da Igreja, não se vê nas Escrituras ninguém que haja celebrado uma festa ou um grande banquete no dia do seu natalício. Somente os pecadores – como Faraó e Herodes – festejaram com grande regozijo o dia em que nasceram neste mundo (ENCICLOPÉDIA CATÓLICA POPULAR, 2005).

No século III d.C., a Igreja Católica adaptou a data para permitir a conversão dos povos pagãos sob o domínio de Roma. Assim, o dia 25 de dezembro foi adotado, a fim de que a data coincidisse com uma festividade romana dedicada ao nascimento do Deus Sol, no solstício de inverno. E, ao longo do tempo, o Natal passou a envolver costumes – hoje modernizados – que incluem troca de presentes e cartões, ceia de Natal, músicas natalinas, festas de igreja, refeição especial e exibição de decorações diferentes, incluindo árvores de Natal, pisca-piscas, guirlandas, visco,  presépios e ilex. Outrossim, o Papai Noel – ou Pai Natal – é uma figura mitológica popular em muitos países, associada aos presentes infantis.

No mais, a troca de presentes e muitos outros aspectos das festividades natalinas provocam um aumento nas atividades econômicas dos países que as comemoram. Em resumo, o Natal – cuja origem vem da implantação inteligente de estratégias de marketing da diretoria da recém-organizada Igreja Católica do século III d.C., a qual pegou carona em um festival pagão – tornou-se um dos períodos-chave de vendas para empresas e varejistas. O impacto econômico da época é um fator que tem crescido de forma constante ao longo dos últimos séculos em regiões diferentes do mundo.


[1] Bíblia de Estudo NVI.

(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 27/12/2013, Opinião, p. B7)

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O olhar do poeta

Roberto de Queiroz


De acordo com o poeta Manoel de Barros, é possível tirar poesia até do esgoto. Augusto dos Anjos, nesse contexto, palavreia de maneira similar. Segundo ele, o beijo é a véspera do escarro. “O que se depreende [...] [dessa expressão] não é o sentido frio do dicionário da palavra escarro, mas a grande verdade da vida e que existem pessoas que beijam outras com um beijo traiçoeiro, como Judas, que beijou Cristo para, em seguida, entregá-lo à prisão. [...] Para retratar essa realidade, o poeta diz que o beijo (a parte boa) antecede a parte má (o escarro). Ninguém perguntou, mas ele responde. É assim o mundo visto pela ótica pessimista de quem escreve, embora seja bem mais conhecido dizer que o poeta só fala de amor. O certo é que a tradição não liga muito a ideia de esgoto à poesia” (Admmauro Gommes, Intradução poética).

São lúcidos os comentários acima. São perfeitamente possíveis tanto haver poesia no esgoto quanto a proximidade entre beijo e escarro. Não no sentido literal (denotativo), mas no sentido literário (conotativo) da palavra. O beijo de Judas ilustra muito bem a linha de raciocínio de Admmauro. Afinal, “o que realmente caracteriza a poesia é o fingimento. Observemos, por exemplo, a primeira estrofe do poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente.” Esses dois últimos versos revelam claramente que o poeta não anula a existência de uma dor real, mas a dor fingida, a dor que figura no poema, assume uma característica própria e atua com mais intensidade que a dor real” (1).

De resto, vale salientar que certos autores definem a poesia como ficção: “Poeta, escreveu Jonson, grande dramaturgo inglês, contemporâneo de Shakespeare e um dos homens mais cultos do seu tempo, é, não aquele que escreve com métrica, mas o que finge e forma uma fábula, pois fábula e ficção são, por assim dizer, a forma e a alma de toda obra poética ou poema.” Mas, conforme assegura Manuel Bandeira, “é evidente que a poesia pode nascer também em pleno foco da consciência, e portanto atuar de maneira claramente apreensível. [...] Afinal em poesia tudo é relativo: a poesia não existe em si: será uma relação entre o mundo interior do poeta, com a sua sensibilidade, a sua cultura, as suas vivências, e o mundo interior daquele que o lê” (2).

P. S. – Citações minhas: (1) em “O poeta e a poesia”; (2) em “Meus versos livres e soltos”.

(Artigo publicado no jornal Gazeta do Oeste, Mossoró/RN, 30/10/2014, Opinião, p. 2)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ser professor

“A profissão de professor é a pedra basilar na construção das demais. Médicos, jornalistas, engenheiros ou atores dependeram da contribuição do professor ao longo do aprendizado. Ele é o facilitador na socialização do indivíduo como também na construção do aprendizado profissional. É, em geral, uma profissão pouco valorizada e desestimulada pelo Poder Público e pela sociedade, mas é a mais requisitada e necessária para o desenvolvimento pessoal e social. Seus serviços são usados pela sociedade com muito maior frequência do que os de qualquer outra profissão, porque são cotidianos e ininterruptos para a formação e informação das novas gerações.”

(CARVALHO, Nelly. Apresentação. In: QUEIROZ, Roberto de. Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem. Livro Rápido, 2013, p. 13) 

A crise na política brasileira

“A crise na política brasileira não é problema de candidato A ou B, nem de partido A ou B, e sim dos eleitores brasileiros, cuja parcela significativa não sabe votar. Intelectual ou não, essa parcela vota na base do oportunismo, de modo que cada um puxa a brasa para sua sardinha e joga água na brasa da sardinha dos outros. Em geral, não importa se um candidato é desonesto, despreparado ou não, mas se atende a interesses particulares, é sempre o favorito.
(Roberto de Queiroz, Folha de Pernambuco, 14/10/2014, p. 7) 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

As autoridades da educação

Roberto de Queiroz

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, além de muito elogiada pela imprensa por sua elegância e discrição, foi muito feliz em seu discurso de posse, em primeiro de janeiro de 2011. Alguns dos pontos mais altos de seu discurso se referem à liberdade religiosa, à liberdade de imprensa e à valorização do ensino infantil, do ensino fundamental e do ensino médio (se articula, inclusive, investir no ensino médio profissionalizante).

Mas o ponto que mais me chamou a atenção no discurso de Dilma está na cita: “Os professores e as professoras são as verdadeiras autoridades da educação.” Reconhecer esse fato publicamente é algo deveras positivo. Isso porque ultimamente não é dada ao professor a autoridade que lhe é de direito.

Ou seja, o professor dificilmente participa de decisões que envolvem suas atribuições profissionais. Essas decisões quase sempre são tomadas por pessoas que nunca ministraram uma única aula. Apenas fizeram a leitura de teórico A ou B, cujas obras não necessariamente refletem a realidade atual. E empurram tudo isso goela abaixo. São os que costumo chamar de “ratos de laboratório”.

Ora, alguém faria uma cirurgia com um autodidata em medicina (uma pessoa que nunca fez uma cirurgia, apenas leu teórico A ou B)? É lógico que não. Por que com a educação não pode ser diferente? Pode e deve.

Todavia, o professor nem sempre é consultado sobre as temáticas de capacitações pertinentes à sua área de atuação, sobre o sistema de avaliação implantado por estados e municípios, etc. Pelo contrário, o professor é um dos profissionais que mais tiveram aumento de tarefas nos últimos anos, sem ter o direito de aduzir sua opinião a esse respeito.

No discurso de Dilma, há uma promessa de mudança. A atual presidente promete dar ao professor e à professora o papel que lhes é de direito, isto é, o de verdadeiras autoridades da educação. Porém, pelo andar da carruagem, parece que se trata de apenas mais uma promessa de governo.

(Artigo publicado na Folha de Pernambuco, 13/10/2014, Opinião, p. 10)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A ascensão econômica de Ipojuca

Roberto de Queiroz

ARTE/DP
A ascensão econômica de Ipojuca teve início com a chegada de Duarte Coelho Pereira a Pernambuco, devido à atividade açucareira introduzida por ele no estado. Na época, a Capitania de Pernambuco cresceu aceleradamente e, em apenas 40 anos, já contabilizava mais de 60 engenhos, muitos deles localizados nas terras do município. A terra fértil e rica em massapé, propícia para o plantio da cana-de-açúcar, o Porto de Suape e a Praia do Porto (conhecida hoje como Porto de Galinhas) favoreceram esse crescimento.

Atualmente, Ipojuca tem o turismo como um de seus principais fatores econômicos, por causa de suas praias, visitadas por turistas de todo o mundo. A rede hoteleira e a gastronomia também estão entre os fatores responsáveis pela ascensão econômica do município.

Mas o Porto de Suape é o carro-chefe dessa ascensão. Foi pensado há algumas décadas para substituir o Porto do Recife, que não tinha espaço para se expandir nem condições de corresponder às exigências do crescente movimento do transporte marítimo. Associada a essa necessidade, se desenvolveu a ideia de construir um novo porto e um distrito industrial capaz de promover o desenvolvimento de Ipojuca e do Nordeste. Daí, nasceu o Complexo Industrial Portuário de Suape, baseado na integração porto-indústria, a exemplo de países como França e Japão.

(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 25/09/2014, Opinião, p. A8)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

MEC compra livros para quase ninguém ler

A escola pode desempenhar seu papel na formação de leitores se tiver um bom acervo de livros de literatura à disposição dos estudantes, professores que gostem de ler, organizem estratégias para apresentar os livros, levem os estudantes para visitar bibliotecas e outros equipamentos culturais da cidade e desenvolvam projetos de leitura. Mas, na prática, isso nem sempre acontece. Parece piada, mas o MEC gasta (todos os anos) uma quantia muito alta com compra de livros para quase ninguém ler. Apenas para gastar dinheiro público. A maioria das escolas brasileiras não dispõe de bibliotecas. São raras as escolas que não “guardam” o acervo enviado pelo MEC na base do improviso. Bibliotecário? Nem pensar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O gosto pela leitura

Antonio Barbosa*

Felicíssimo o artigo do escritor Roberto de Queiroz, 'A formação do leitor literário na escola' (Diario, 02.09.14). Ele escreveu: "(...) defendo a ideia de que a leitura de textos literários na escola pode ser uma leitura sem amarras (uma leitura que seduz e encanta o leitor e induz ao gostar de ler), mas a mediação do professor desempenha um papel fundamental na realização desse processo". E mais: "(...) o espaço escolar é o lugar da experimentação e esta se dá à medida que o aluno é desafiado a ler textos (...); a escola precisa mostrar aos alunos a importância da leitura e o conhecimento dos aspectos que a envolvem, além de apresentar, de forma qualificada, textos (...) sob o olhar atento e orientador de um professor-leitor".

Esses entrechos acima foram pinçados do artigo do escritor Roberto de Queiroz, e serve as nossas reflexões por dois motivos principais. O 1º; há uma preocupação no reino do MEC quanto ao elevado número de jovens analfabetos funcionais: leem, mas não sabem interpretar o que leram. O 2º; o envolvimento do professor é fundamental para que o aluno tenha um interesse (maior) pela leitura a partir da sala de aula. O enunciado, aliás, me diz muito de perto, por ter aprendido a gostar de ler através do ex-professor Marcos Vilaça quando ginasiano. Ele nos estimulava, citando autores, nacionais e internacionais e, teatralizou o júri simulado de Dreyfus, como prática de interpretação e desinibição. Na faculdade o saudoso professor Marcos de Barros Freire fazia com que lêssemos os editoriais e artigos de opinião dos nossos jornais, que nos poria antenados com os acontecimentos importantes da política, dos negócios, das artes, etc.

Destarte, nesse espaço que o Diario nos concede, já dei alguns exemplos de adolescentes que tornaram-se escritores, como foi o caso de Felipe (17 anos), que escreveu o romance "Desejos Obscuros" e de Kaline Felix (16 anos) que escreveu "Eu Odeio Amar Você" e, de João Vitor (13 anos), que está terminando um livro de contos ainda sem título (ver; "Os escritores adolescentes e a presidenta", Diario de 12.07.2013). Os dois primeiros alunos citados estudam no Centro de Ensino Supletivo do Sesi/Centro, e o último, na Unidade Roberto Egídio de Azevedo.

* Antonio Barbosa é diretor regional do Sesi/PE
(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 12/09/2014, Opinião, p. A8)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A formação do leitor literário na escola

Roberto de Queiroz
GREG/DP
A escritora Tatiana Belinky, falando sobre como estimular o prazer da leitura na escola, disse o seguinte numa entrevista: “Há coisas que não se manda fazer, elas acontecem. E a leitura é uma delas. O leitor é livre. Você lê para você mesmo, para seu divertimento, para sua emoção, não tem obrigação de coisa nenhuma. Você começa a ler e vai logo perceber que é bom. Uma história bem contada pode fazer alguém chorar ou rir, isto é, pode prender o leitor” (Na ponta do lápis, nº 12, dez. 2009). Mas como fica a liberdade do leitor iniciante? Como é que alguém pode escolher o que não conhece?

Para Caio Riter, se cada aluno tem a liberdade de ir à biblioteca e escolher o livro a ser lido, ele é o responsável por sua formação leitora. Assim, quando é convidado para apresentar, apresenta “sua visão de leitura, não havendo na sala de aula espaço para a interação com diferentes leitores, em diferentes níveis de leitura, visto que poucos (ou apenas um) terão lido aquele texto, correndo-se o risco, inclusive, de o próprio professor não ter a mínima noção sobre o que trata cada um dos livros lidos por seus alunos” (A formação do leitor literário em casa e na escola, Biruta, 2009).

O escritor italiano Italo Calvino (1923-1985) disse certa vez que “ler é um ato de liberdade, mas para quem já [...] foi formado pela escola como leitor. Ou seja, o espaço escolar é o lugar da experimentação e esta se dá à medida que o aluno é desafiado a ler textos que passaram pelo critério de qualidade do professor e/ou que atendem a algum objetivo, cuja realização se faz necessária”.

Desse modo, a liberdade do leitor iniciante pode ser respeitada “quando a escola, através da obrigatoriedade da leitura e de uma prática metodológica que assegure espaço para a reflexão e para o deleite, forma leitores qualificados. A escola precisa mostrar aos alunos a importância da leitura e o conhecimento dos aspectos que a envolvem, além de apresentar, de forma qualificada, textos [...] cuja leitura, se não realizada na escola, sob o olhar atento e orientador de um professor-leitor, muitas vezes jamais ocorrerá” (Riter, op. cit.).

Em suma, pedir simplesmente que os alunos leiam um texto qualquer, sem a análise criteriosa e sem o planejamento prévio do professor, é coisa que pode parecer aula de leitura a um desavisado, mas, obviamente, não corresponde aos critérios de leitura como conteúdo em sala de aula. Ou seja, defendo a ideia de que a leitura de textos literários na escola pode ser uma leitura sem amarras (uma leitura que seduz e encanta o leitor e induz ao gostar de ler), mas a mediação do professor desempenha um papel fundamental na realização desse processo.


(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 02/09/2014, Opinião, p. A6)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ode à velha Camela

Roberto de Queiroz

Velha Camela, poluída “não és”, super-habitada “não és”, sem recursos “não és”, suja “não és”. Desumana, “sim”. Mas és minha e eu não te troco por outra. Aqui nasceram meus sonhos, meus anseios, a vontade de vencer obstáculos, a febre de trabalho e a criatividade.

Velha Camela, minha deusa, minha namorada. “Nasceste ontem, renasces hoje.” Vejo-te viva, vejo-te imortal. Vejo-te descobrindo o espírito de nosso tempo, “em que ricos e poderosos são fraternos, apenas, embriagados”. Por outro lado, vejo-te adormecida. Vejo tuas ruas tristes, teus mocambos empoeirados, olvidados lá nos morros, conduzidos pela mão madrasta do abandono.

Os que vêm de fora não te conhecem, velha Camela. Não sabem disso. Não conhecem esse mistério.

Acredito, velha Camela, que um dia há de chover uma chuva bem forte e, a conta dessa chuva, haverá água suficiente para lavar tua face, para lavar a sombrosidade de teu povo, pois teu povo está cada vez mais sombrio, mais soturno, mais exasperado. O suor de seu rosto, os ganhos de seu trabalho são malbaratados pela agudez das garras dos oportunistas.

Que tu acordes, velha Camela, sob a mística equidade dessa chuva, tão equitativamente envolvente que trará em seus pingos grossos e duradouros recordações do passado e repostas ao presente. Talvez ela não traga todas as recordações nem todas as respostas, mas será com certeza o reflexo vultoso da autenticidade que verei transparecendo na brumosidade da água.

P. S.: Camela é distrito de Ipojuca (cidade localizada na área metropolitana de Recife/PE).

(Crônica publicada na Folha de Pernambuco, 28/07/2014, Opinião, p.10)

domingo, 13 de julho de 2014

A derrota da seleção do Brasil para a da Alemanha

A derrota da seleção do Brasil por 7x1 para a da Alemanha serviu para mostrar que autoconfiança demais, às vezes, pode ser algo negativo (arrogância). O Brasil era considerado o país do futebol e, desse modo, o favorito a campeão mundial. Porém essa derrota acachapante serviu para revisar esse conceito e, também, para separar o Brasil do futebol do Brasil real. Este, sim, precisa ser discutido. Mas, por causa do futebol, a atenção a ele era desviada.

(Roberto de Queiroz, Diario de Pernambuco, 10/07/2014, p. A7)

sábado, 12 de julho de 2014

Professor “faz-tudo”

Quanto ao despreparo dos professores brasileiros, apresentado na 2ª edição da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), realizada pela OCDE e coordenada no Brasil pelo (Inep), a pesquisa confirmou o óbvio. É claro que aproximadamente metade deles não se sente preparada para o trabalho em sala de aula. Essa parcela contempla principalmente os professores da primeira etapa do ensino fundamental, os quais são obrigados a dar aulas de sete ou mais disciplinas. Cada membro desse grupo recebe a alcunha de professor polivalente (“faz-tudo”). O fato é que não sabe tudo, nem dispõe de tempo para fazer tudo como mando o figurino. Minha sugestão é que, a partir do 1º ano do ensino fundamental, cada professor lecione apenas uma disciplina específica, conforme sua área de atuação.

(Roberto de Queiroz, Folha de Pernambuco, 10/07/2014, p.7)

domingo, 6 de julho de 2014

Alpes italianos

Nos Alpes italianos, existia um vilarejo, onde as pessoas se dedicavam ao cultivo de uvas para a produção de vinho.

Uma vez por ano, ocorria uma festa para comemorar o sucesso da colheita. A tradição exigia que, nessa festa, cada morador do vilarejo levasse uma garrafa do seu melhor vinho, para colocar dentro de um barril grande que ficava na praça central.

Ocorreu, entretanto, que um dos moradores pensou: “Por que devo levar uma garrafa do meu melhor vinho? Levarei uma garrafa cheia de água, pois, no meio de tanto vinho, o meu não fará falta.” Assim pensou e assim fez.

No auge dos acontecimentos, como era de costume, todos se reuniram na praça, cada qual com sua caneca, para pegar uma porção daquele vinho, cuja fama se estendia além das fronteiras do país. Porém, ao se abrir a torneira do barril, um silêncio tomou conta da multidão: daquele barril saiu apenas água.

Como isso aconteceu? O fato é que todos pensaram como aquele morador: “A ausência da minha parte não fará falta.”

Nós somos muitas vezes induzidos a pensar: “Tantas pessoas existem nesse mudo que, se eu não fizer a minha parte, isso não terá importância.”

(AUTOR DESCONHECIDO)

terça-feira, 1 de julho de 2014

Os professores que mais trabalham

Roberto de Queiroz

Pesquisa realizada em 34 países, entre 106 mil profissionais de educação, revela que os professores brasileiros são os que mais trabalham, mas têm o salário mais baixo do mundo. No Brasil, esses profissionais trabalham, em média, 6 horas a mais que em outros países. Perdem 20% do tempo pedagógico com a indisciplina dos estudantes e 12% com tarefas administrativas (Jornal da Cultura, 25/06/2014).

O percentual referido às tarefas administrativas soa equivocado, basta considerar o tempo reservado ao preenchimento de diários de classe, os quais geralmente são cheios de redundâncias e exigências desnecessárias, tome-se como exemplo aqueles em que o planejamento registrado no início da cada unidade bimestral é repetido no registro diário de aulas, ou seja, faz-se a mesma coisa duas vezes. Há casos, inclusive, nos quais se exige do professor o registro de 5 notas por estudante, em cada unidade bimestral, avaliando em cada uma delas habilidades, competências, atitudes e comportamentos. Acrescente-se a isso o direito do estudante a uma recuperação paralela a cada uma dessas 5 notas e uma recuperação final.

Os professores da primeira etapa do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) ministram aulas de 7 disciplinas, a saber, português, matemática, história, geografia, ciências, artes e ensino religioso. Se ainda forem acrescentadas a Constituição Federal e ética, conforme sugerem alguns políticos, o total ascenderá para 9. A maior parte desses profissionais trabalha em duas escolas. Há mesmo quem acredite que eles realmente dispõem de tempo para pesquisar, analisar, planejar os conteúdos a serem ministrados em todas essas disciplinas e para realizar (entre outras) as tarefas administrativas citadas anteriormente?

(Artigo publicado no jornal Gazeta do Oeste, Mossoró/RN, 01/07/2014, Opinião, p. 2)

sábado, 28 de junho de 2014

O legado da Copa


A Copa nem bem começou, mas seu legado já está claro: mostrar ao povo brasileiro que a verba que poderia ser usada na educação, na saúde, na segurança e no sistema mais amplo de mobilidade urbana foi usada para a construção de magníficos estádios de futebol (tão imponentes e suntuosos que trocaram o prosaico nome de “estádio” pelo epopeico nome de “arena”). Conclusão: se o governo tivesse interesse de construir magníficas escolas, teria construído; se tivesse interesse de construir magníficos hospitais, teria construído; se tivesse interesse de construir magníficas estradas, teria construído. O fato é que não tem. Sabe-se bem por que motivos.

(Roberto de Queiroz, Folha de Pernambuco, 28/06/2014, p. 7) 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O poeta

Roberto de Queiroz

Para Sigmund Freud, o poeta conhece, entre o céu e a terra, muitas coisas que o conhecimento acadêmico sequer sonha conhecer. É nosso mestre, no que tange ao conhecimento da alma, pois bebe de fontes que ainda não se tornaram acessíveis à ciência. No dizer de Admmauro Gommes, “o poeta é um fundador de mundos e está sempre dando respostas, como se alguém lhe pedisse explicação dos fatos da vida. Ele descreve o interior das coisas. Não como realmente são, mas como deviam ser. Por isso, o inventor não leva muito em conta os acontecimentos reais. Prefere criar sua própria versão, fazendo do feio bonito, do triste contente [...].”

Na visão de Jonson, poeta não é “aquele que escreve com métrica, mas o que finge e forma uma fábula, pois fabula e ficção são, por assim dizer, a forma e a alma de toda obra poética ou poema.” Paul Valéry, por sua vez, afirma que o poeta tenta representar ou restituir, “por meio da linguagem articulada, aquelas coisas ou aquela coisa que os gestos, as lágrimas, as carícias, os beijos, os suspiros procuram obscuramente exprimir.” Ademais, Mia Couto certifica que o poeta não é apenas o detentor de um gênero literário, e sim de uma filosofia, de um modo de saber de si próprio, dos outros e do mundo.

Resumindo, o poeta é alguém que está para além da ciência (bebe de fontes que a ciência ainda não bebeu). É um observador perspicaz (descreve o interior das coisas). É um fingidor por excelência – não um mentiroso (finge e reinventa a realidade, conforme sua própria versão, tornando-a ficção). Tenta representar, por intermédio da linguagem articulada, as coisas que o comportamento humano não consegue expressar. Está para além da literatura (transita pela filosofia, pelo próprio interior, pelo interior dos outros, etc., e revela o que observa, conforme a própria observação). Não é um ser iluminado, e sim um ser supersensível, cuja sensibilidade é capaz de ir além dos cinco sentidos humanos (visão, audição, olfato, gustação e tato).

(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 18/06/2014, Opinião, p. B4)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Autores & Livros

Nelson Hoffmann e Inês Hoffmann


Roberto de Queiroz publicou livro que interessa, e muito, num mundo em que o livro perde terreno diariamente. O livro Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem é uma abordagem consciente, séria e esclarecedora de quem é professor e trabalha com leitura em sala de aula. Basicamente, o livro é dividido em duas partes: objetivos e funções da leitura e o conhecimento prévio na leitura. Na primeira parte, pode-se observar [...] o “porquê”  e “para que” ler; na segunda parte, são comentados os pré-requisitos para uma boa leitura.

(Nelson Hoffmann e Inês Hoffmann. Autores & Livros. O Nheçuano, n. 21, mar./abr. 2014, p. 10)

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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Revista Urubu n. 4

IMPERDÍVEL

Em destaque:

Admmauro Gommes, Albanielly Soares, Alexandre Flores, Caio Vitor, Douglas Rocha, Farlla Caroline, Gabriela Raianne, Genyff Farias, Jailton Ferreira,  João Constantino, Juareiz Correya, Karoline Serpa, Manuela Lira, Marcondes Calazans, Murilo Gun, Osani Severina, Osman Holanda, Reginaldo José de Oliveira, Riccardo Guerra, Roberto de Queiroz, Rogério Generoso, Romilda Andrade, Sylvia Beltrão, Vinícius de Moraes e Vital Corrêa de Araújo.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Ainda não perdemos a esperança

Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, Teresina-PI, e da IWA-Interntional Writers and Artists Association-EUA       

Diante de toda a análise procedida, lembro dos símbolos de nosso país, ainda felizmente falando o português abrasileirado. O primeiro deles o Hino Nacional, depois a bandeira. Somente no desprezo pelo saber, pela escola, pelo livro pode chegar a uma suposição de ter-se perdido o hábito de o Hino Nacional nas Escolas há muito, muito tempo. E, como sabemos que cantar infunde na criança alegria e paixão, nossos homens atuais têm um desprezo enorme por nossa história e até debocham dos antepassados, como se nada tivéssemos com ele.  Só somos brasileiros por ocasião de jogos de Copa de Mundo ou de outros torneios internacionais? O que é isto? Não há mais inspetor escolar (não há mais inspetor de nada), e eu lembro de quando uma dessas autoridades chegava às escolas: todos os alunos levantavam e batiam palmas, enquanto, de pé e em silêncio, esperavam a ordem dele para sentarem. Havia respeito. Hoje o respeito foi para o ar: virou moda os assaltos à mão armada, os danos ao patrimônio público, os assassinatos sem solução policial... Sinceramente, eis o que todos nós sentimos: a vida perdeu muito do seu valor. E é ou não este um  dos direitos fundamentais do homem? Por sinal, o primeiro, pois sem ele os outros não têm condição de existir.

Deixamos de falar sobre o trânsito – também a nossa Constituição do Estado reza que, nas escolas deve haver aulas de educação no trânsito. No trânsito transparece toda a educação (pra não dizer falta de educação) do brasileiro. Apesar de tirarem os documentos e aprenderem em pequenas aulas partes especiais do Código de Trânsito, agem como se, conhecendo a lei, tenham maior prazer de ignorá-la. E por que deixamos o problema apenas apontado? Porque tomaria todo o nosso tempo e não chegaríamos a tempo com nossa proposta de uma reforma da educação no Brasil, em profundidade e para ser comandado o programa por diversos governos, por diversas gerações para começar  a dar resultados. Escola para todos, a começar pelos pais – que estão muito precisados de noções do que é uma família e de que ela deve ser dirigida, educada,  seguida, amada – a família a célula mater da sociedade.

Para terminar, gostaria citar uma parte do artigo “O gargalo da educação básica no Brasil” (Folha de Pernambuco, 29/7/2013), de autoria de Roberto de Queiroz, dentro do qual transcreve estas palavras: “O prof. João Batista Araújo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, [...] salienta a importância de se ter senso de realidade em relação aos programas de ensino antes de adotá-los (ou não). Os municípios precisam analisar  cuidadosamente os programas de ensino que aplicam, a adequação do material didático e os mecanismos de apoio ao professor. Mas principalmente parar de  atrapalhar a escola, criando e recriando programas.” Depois de citar seu colega, Roberto de Queiroz, professor da rede pública há mais de doze anos na educação básica, dá sua opinião sensata: “O problema é que os governantes não visam o alvo. Atiram aleatoriamente para todos os lados. Por que não ouvir os gestores, os coordenadores pedagógicos e os professores, a fim de saber qual programa se adéqua melhor à realidade dos estudantes? Ou por que não dar autonomia aos municípios para que eles construam seu próprio currículo pedagógico, em consonância com as características locais e as diretrizes nacionais?”

O que foi dito para os municípios também é válido para os Estados. Não é fácil construir e executar um programa de caráter nacional, mas que contemple as diferenças locais, dando independência a municípios e Estados para colaborarem nessa empresa que salvará o Brasil, certamente. Porém, programas complexos assim exigem tempo e continuidade da política, dentro da estrita democracia. Por isto, não haverá referendo, não haverá plebiscito, não haverá reforma política que sirvam enquanto não fizermos a reforma da educação, com paciência, saber e destinação, pois o Brasil tem muito para ser uma grandiosa Nação.