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sábado, 5 de dezembro de 2020

Sujeito composto

 Roberto de Queiroz

Um garoto de colégio, questionado sobre o assunto, deu uma resposta inusitada. Eis o comando da questão e sua consequente resposta:

“Explique, com suas palavras, o que é sujeito composto.”

“João tem um posto. João é um sujeito composto.”

Se houvesse um texto para o estudante se basilar, talvez valesse a pena elaborar tal proposição. Mas elaborá-la assim, do nada, parece-me perda de tempo. Com a devida vênia, quem merece nota zero é o professor que a elaborou. Pois, se analisado o comando (“Explique, com suas palavras, o que é sujeito composto”), a resposta do estudante está correta, uma vez que ele fez exatamente o que se pede ali. Quer dizer, o estudante não foi orientado a responder à questão em conformidade com o que reza a tradição gramatical, e sim de acordo com as próprias palavras. Foi exatamente isso o que ele fez.

domingo, 29 de novembro de 2020

Denotação e conotação

A língua portuguesa permite que seu falante se expresse sendo literal e usando as palavras em seus sentidos comuns, ou sendo criativo e expandindo o horizonte de significado das palavras. O importante para a língua é que a mensagem criada seja entendida por seus receptores. Esse processo de comunicação pode utilizar a denotação, o sentido literal das palavras, ou a conotação, o sentido figurado.

Denotação

Palavras ou textos que estão empregados em seus significados habituais, normalmente os encontrados nos dicionários. Esse tipo de significado é chamado de denotativo. Normalmente, a linguagem denotativa é usada para informar de forma objetiva, direta e clara. Exemplos de lugares onde podemos encontrar a linguagem empregada denotativamente são os textos científicos, jornalísticos e instrutivos. Vale ressaltar que uma palavra pode ter mais de um significado sem que nenhum deles fuja do sentido literal. Veja exemplos abaixo:

  • Eu odeio suco de laranja. (Fruta)
  • Minha camisa é laranja. (Cor)

Conotação

A linguagem conotativa é utilizada quando o significado de uma palavra, frase ou texto é empregado de forma figurada, circunstancial, ou seja, não carrega, naquele contexto, o seu sentido comum. Os significados conotativos de uma palavra não são encontrados em um dicionário, isso porque dependem de interpretação, que pode diferir conforme o receptor da mensagem. Esse tipo de linguagem normalmente é empregado em textos mais criativos, poéticos e emocionais, pois o principal objetivo de seu uso é provocar sentimentos e sensações.

A linguagem conotativa é muito mais recorrente do que parece. Em nosso dia a dia, usamos, ouvimos ou vemos palavras, frases ou até mesmo imagens com sentido figurado. Seja em anúncios, expressões ou ditados populares, poesias, literatura e músicas, a conotação está sempre presente. Confira alguns exemplos:

  • Ele é o laranja da empresa. (Indivíduo envolvido em transações ilícitas)
  • Seu sucesso é enorme, já pode ser considerada uma estrela. (Pessoa que se destaca tanto quanto uma estrela na escuridão do céu)
  • Não vou com vocês nem que a vaca tussa. (Expressão que reforça uma negação)

Disponível em: <https://www.gramatica.net.br/denotacao-e-conotacao>. Acesso em: 16 abr. 2020.

sábado, 11 de julho de 2020

domingo, 5 de julho de 2020

O verdadeiro papel da escola


“No dizer do renomado educador português António Nóvoa, [...] ‘as teorias dominantes na escola do século XXI são ainda aquelas do século XX’.

Não adianta a criança passar oito ou nove horas na escola todos os dias e não aprender. Para que haja aprendizagem, é preciso que a escola atenda aos padrões mínimos de qualidade de ensino assegurados pela LDB (Lei 9.394/96), Artigo 4º, Inciso IX, que são ‘definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem’.”

(O verdadeiro papel da escola [excertos]. In: QUEIROZ, Roberto de. Recortes do tempo. Maringá: Viseu, 2019. p. 53-54. Saiba mais em: https://www.editoraviseu.com.br/recortes-do-tempo-prod.html)

terça-feira, 30 de junho de 2020

Gênero textual “crônica”: breve exposição teórica



“[...] A crônica começou a ser moldada na alta Idade Média por uma perspectiva individual que lhe conferiu uma dimensão interpretativa e provavelmente estética. E, no século XIX, com o desenvolvimento da imprensa periódica, emergiu no sentido moderno. A princípio, era apenas uma pequena seção de abertura que dava conta das notícias e dos rumores do dia. Depois, especializou-se (crônica esportiva, musical, etc.) e expandiu-se pelo interior do periódico. Mais adiante, deslocou-se para o folhetim (seção do rodapé da primeira página de um periódico), lugar em que conquistou a colaboração de profissionais da área de letras e, consequentemente, um espaço entre jornalismo e ficção.”

(Artigo e crônica: breve distinção teórica [excertos]. In: QUEIROZ, Roberto de. Recortes do tempo. Maringá: Viseu, 2019. p. 11-16. Saiba mais em: https://www.amazon.com.br/Recortes-do-tempo-Roberto-Queiroz/dp/8530002350)

domingo, 28 de junho de 2020

Gênero textual “artigo”: breve exposição teórica


“O termo artigo, enquanto modalidade textual, designa basicamente dois gêneros: científico e opinativo. Artigo científico é o trabalho acadêmico de autoria declarada que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados sucintos de uma pesquisa realizada...

[...]

Artigo opinativo é um gênero textual jornalístico de matéria assinada, quase sempre composto de 30 ou 35 linhas, a depender do veículo em que é publicado. A assinatura identifica o responsável pela opinião expressa no artigo, que não necessariamente coincide com a opinião do veículo em que ele é publicado. O autor de um artigo opinativo normalmente é autoridade no assunto abordado ou é pessoa famosa cuja opinião sobre questões de grande repercussão interessa ao grande público.”

(Artigo e crônica: breve distinção teórica [excertos]. In: QUEIROZ, Roberto de. Recortes do tempo. Maringá: Viseu, 2019. p. 11-16. Saiba mais em: https://www.editoraviseu.com.br/recortes-do-tempo-prod.html)

terça-feira, 5 de maio de 2020

Texto literário: conceito, características e exemplos

Roberto de Queiroz


O que é texto literário?

O texto literário tem função artística. Nessa modalidade textual, o autor preza a estética e o uso da linguagem conotativa. Para tanto, ele se vale de uma série de recursos linguísticos que tornam o texto mais rico e, ao mesmo tempo, mais complexo, prevalecendo nesse processo a ausência do óbvio.

Melhor dizendo, o texto literário é passível de multissignificação, podendo ser interpretado de modos variados por diferentes leitores, em conformidade com o conhecimento de mundo de cada um deles. Isso é possível porque o autor dessa categoria textual não se prende à comunicação pura e simples de fatos.

Com base na realidade ou na ficção, ele tem a liberdade de criar as próprias regras, sem o compromisso com a impessoalidade, com a objetividade nem com a clareza de ideias. Além disso, dá ênfase ao significante por meio do uso de palavras sinônimas.

Quanto ao feitio, o texto literário pode ser materializado em forma de escrita (versos ou prosa) e/ou de ilustração. Notem-se como exemplos literatura infantil e história em quadrinhos.

Características do texto literário

1. Linguagem conotativa: prevalece o uso da linguagem figurada.
2. Complexidade: recursos linguísticos tornam o texto complexo.
3. Multissignificação: pode ser interpretado de modos variados.
4. Variabilidade: pode surgir da realidade ou da ficção.
5. Liberdade de criação: o autor pode criar as próprias regras.
6. Ênfase ao significante: uso frequente de palavras sinônimas.
7. Variação de forma: pode variar entre versos, prosa e/ou ilustração.

Exemplos de textos literários

Romance

Romance é um gênero textual narrativo, escrito em prosa, no qual é contada história imaginária ou inspirada na realidade. Distingue-se do conto pela maior extensão, complexidade e variedade da técnica narrativa. Dispõe de mais de um núcleo e vários conflitos se desencadeiam no decorrer da narração da história principal.

Veja a seguir a passagem de um romance, retirada de uma obra de Milton Hatoum:

“Naquela época, quando Omar saiu do presídio, eu ainda o vi num fim de tarde.  Foi o nosso último encontro.

O aguaceiro era tão intenso que a cidade fechou suas portas e janelas bem antes do anoitecer.  Lembro-me de que estava ansioso naquela tarde de meio-céu. Eu acabara de dar minha primeira aula no liceu onde havia estudado e vim a pé para cá, sob a chuva, observando as valetas que dragavam o lixo, os leprosos amontoados, encolhidos debaixo dos oitizeiros.  Olhavam com assombro e tristeza a cidade que se mutilava e crescia ao mesmo tempo, afastada do porto e do rio, irreconciliável com o seu passado.”

HATOUM, Milton.  Dois Irmãos.  São Paulo:  Companhia das Letras, 2000. p. 264.

Conto
  
Conto é um gênero textual narrativo, escrito em prosa, em que há o relato de episódio fictício ou baseado em fatos. Diferencia-se do romance por ser mais curto que este, apresentar apenas um núcleo, poucas personagens e girar em torno de apenas um conflito.

Como exemplo, analise o excerto a seguir, retirado de um conto de Clarice Lispector:

“Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão.” 

LISPECTOR, Clarice. “Tentação”. In.: ______. A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1977. p. 59-60.
   
Crônica

Crônica é um gênero textual que transita entre o jornalismo e a ficção. Na crônica, normalmente predominam a narração e a descrição de fatos cotidianos, bem como o uso da linguagem coloquial.

A título de exemplo, leia este trecho da crônica iLua, de Antonio Prata, publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 23/12/2018:

“A primeira palavra que eu falei foi lua. A primeira palavra que eu escrevi também. A primeira sugestão do Google quando você digita “how to photograph” é “how to photograph the moon” e a segunda é “how to photograph the moon with iPhone”. Curiosamente, contudo, quando você escreve “como fotografar a”, em português, a frase “como fotografar a lua” fica em segundo. Em primeiro surge “como fotografar a tela do Mac”. É, pensando bem, talvez Steve Jobs já tenha conquistado a Lua.”

Poema

Poema é um gênero textual organizado em versos. O poema pode conter uma ou mais estrofes, pode ser escrito de forma fixa ou de forma livre e pode conter rimas ou não.

Leia o exemplo abaixo, extraído de um livro do poeta Josivaldo Freire:

Vivo labor

Camponeses lavram a terra por mim.
 lavradores e arados vigiam a retaguarda
 enquanto eu sinto uma fome sem fim
 e sacio tudo com grão de mostarda.

Costureiras me vestem sem o saber.
Retalhos de tempo recortam o amanhã.
Tecelões pasmados tramam o fio sem ver
que no peito um fio de esperança é talismã.

Médicos enfaixam minha dor.
Meus cortes abertos gritam por ti.
Meu remédio é tua dose de candor
a suturar a ferida dentro de mim.

Ouço choro triste de um jardineiro,
suas lágrimas regam a raiz e a flor.
A flor da tua pele me faz prisioneiro
em solo em que adubo semente de amor.

FREIRE, Josivaldo. “Vivo labor”. In.: ______. Voo singular: poemas que elevam. Sirinhaém, PE: Gráfica e Editora Inovação, 2018. p. 16.

sábado, 11 de abril de 2020

Figuras de som

Roberto de Queiroz

Figuras de som (ou de harmonia) são figuras de linguagem[1] associadas à logicidade do texto por meio da repetição de sons idênticos ou semelhantes.

Seguem relacionadas as principais figuras de som.

1. Aliteração – Figura de linguagem formada pela repetição de sons consonantais idênticos ou semelhantes, geralmente no início de palavras próximas em uma frase ou verso, com o intuito de gerar efeito estilístico.

Exemplo:

“Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança
(Castro Alves)

Nesse excerto, a repetição do som consonantal representado pela letra “b”, no início das palavras do segundo verso, gera aliteração.

2. Assonância Figura de linguagem constituída pela repetição de sons vocálicos em palavras próximas ou no final de versos, especialmente em sílabas tônicas, com a finalidade de acelerar o ritmo do poema.

Exemplo:

“Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos”
(Chico Buarque)

No trecho em análise, a assonância é gerada por maio da repetição do encontro vocálico “ei” no interior e no final dos versos.

3. Paronomásia – Figura de linguagem que reside na disposição de palavras parônimas próximas umas das outras. Esse fenômeno é conhecido popularmente como trocadilho.

Exemplo:

“Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
(Almir Sater e Renato Teixeira)

Nesses versos, ocorre paronomásia entre os pares de palavras “manhas/manhãs” e “massas/maçãs”.

4. Onomatopeia – Figura de linguagem que consiste na tentativa de reproduzir sons e barulhos por meio da escrita. Normalmente é usada nas histórias em quadrinhos, mas às vezes é usada em outros gêneros textuais.

Exemplo:

“E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano.” (Machado de Assis)

No período acima, o uso do termo “plic-plic-plic-plic” configura onomatopeia, pois é uma tentativa de reproduzir o som emitido pela agulha ao perfurar o pano.


[1] Figuras de linguagem são recursos linguísticos que exploram a sonoridade, o significado, a estrutura e a disposição das palavras na frase.


terça-feira, 7 de abril de 2020

Português não é para amador


Um poeta escreveu: “Entre ‘doidos’ e ‘doídos’, prefiro não acentuar.” Às vezes, não acentuar parece mesmo a solução. Eu, por exemplo, prefiro a “carne” ao “carnê”. Assim como, obviamente, prefiro o “coco” ao “cocô”. No entanto, nem sempre a ausência do acento é favorável... Pense no “cágado”, por exemplo, o ser vivo mais afetado quando alguém pensa que o acento é mera decoração. E há outros casos, claro! Eu não me “medico”, eu vou ao “médico”. Quem “baba” não é a “babá”. Você precisa ir à “secretaria” para falar com a “secretária”. Será que a “romã” é de “Roma”? Seus “pais” vêm do mesmo “país”? A diferença na palavra é um “acento”; “assento” não tem “acento”. “Assento” é embaixo, “acento” é em cima. “Embaixo” é junto e “em cima” é separado. Seria “maio” o mês mais apropriado para colocar um “maiô”? Quem sabe mais entre a “sábia” e o “sabiá”? O que tem a “pele” do “Pelé”? O que há em comum entre o “camelo” e o “camelô”? O que será que a “fábrica” “fabrica”? E tudo que se “musica” vira “música”? Será melhor lidar com as adversidades da conjunção “mas” ou com as “más” pessoas? Será que tudo que eu “valido” se torna “válido”? E entre o “amem” e o “amém”, que tal os dois? Na “sexta” comprei uma “cesta” logo após a “sesta”. É a primeira “vez” que tu não o “vês”. Vão “tachar” de ladrão se “taxar” muito alto a “taxa” da “tacha”. “Asso” um “cervo” na panela de “aço” que será servido pelo “servo”. Vão “cassar” o direito de “caçar” de dois “pais” no meu “país”. “Por tanto” nevoeiro, “portanto”, a “cerração” impediu a “serração”. Para começar o “concerto” tiveram que fazer um “conserto”. Ao “empossar”, permitiu-se à esposa “empoçar” o palanque de lágrimas. Uma mulher “vivida” é sempre mais “vívida”, “profetiza” a “profetisa”. “Calça”, você “bota”; “bota”, você “calça”. “Oxítona” é “proparoxítona”. Na dúvida, com um pouquinho de contexto, garanto que o “público” entenda aquilo que “publico”. E paro por aqui, pois esta lista já está longa. Realmente, “português” não é para amador! Se você foi capaz de ENTENDER TUDO, parabéns! Seu “português” está muito bom!

(Desconheço a Autoria)

Excelente texto para se trabalhar acentuação gráfica, homonímia e paronímia.

terça-feira, 31 de março de 2020

E-book de Recortes do Tempo na Rakuten Kobo


O e-book da obra Recortes do Tempo, de Roberto de Queiroz, está disponível na Rakuten Kobo. Para comprar ou ler uma amostra grátis, basta clicar neste link.

https://www.kobo.com/br/pt/ebook/recortes-do-tempo

segunda-feira, 30 de março de 2020