Roberto de Queiroz
Os contos de
fadas (ou contos maravilhosos) são uma variação do conto popular
(ou fábula). Constituem-se de narrativas curtas cujas histórias giram em
torno de uma temática central e cujo objetivo é transmitir conhecimentos e valores
culturais de uma geração a outra. Oriundos da tradição oral, transmitem a ideia
de que o herói (ou heroína) tem de enfrentar grandes obstáculos antes
de triunfar contra o mal.
São, em geral,
iniciados pela expressão “era uma vez”, a fim de alertar o leitor sobre o fato
de o tema narrado não se referir ao tempo e espaço presentes. Comportam
personagens e situações que fazem parte do universo individual e cotidiano do
ser humano (conflitos, medos e sonhos). Assim, a rivalidade entre gerações, a
convivência entre crianças e adultos, a transitoriedade da vida (nascimento,
crescimento, velhice e morte) e alguns sentimentos individuais (amor, ódio e
inveja) são apresentados como uma forma de oferecer explicação para os
conflitos do mundo em que vivemos e como um meio de criar formas de lidar com
eles.
Há mais de um século,
os contos de fadas e seu significado oculto têm sido estudados por seguidores
de correntes diferentes da psicologia. Sheldon Cashdan, por exemplo, afirma que
esses gêneros textuais abordam psicodramas da infância, espelhando lutas
reais. Quer dizer, “embora o atrativo inicial de um conto de fadas possa estar
em sua capacidade de encantar e entreter, seu valor duradouro reside no poder
de ajudar as crianças a lidar com os conflitos internos que elas enfrentam no processo
de crescimento” (Os
7 pecados capitais nos contos de fadas).
O autor prossegue
dizendo que cada um dos principais contos de fadas é único, no sentido em que
trata de uma predisposição falha ou doentia do eu. Ou seja, após a leitura da
expressão “era uma vez”, descobrimos, de imediato, que esses textos falam de
vaidade, gula, inveja, luxúria, hipocrisia, avareza ou preguiça – os “sete
pecados capitais da infância”. E, embora um determinado conto de fadas possa
tratar de mais de um “pecado”, um deles, geralmente, ocupa o centro da trama.
De resto, Cashdan
salienta: “O modo pelo qual os contos de fadas resolvem esses conflitos é
oferecendo às crianças um palco onde elas podem representar seus conflitos
interiores. As crianças, quando ouvem um conto de fadas, projetam
inconscientemente partes delas mesmas em várias personagens da história,
usando-as como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu.”
(Texto
publicado na Folha de Pernambuco, 11/11/2013, Opinião, p.
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