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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O significado oculto dos contos de fadas

Roberto de Queiroz

Os contos de fadas (ou contos maravilhosos) são uma variação do conto popular (ou fábula). Constituem-se de narrativas curtas cujas histórias giram em torno de uma temática central e cujo objetivo é transmitir conhecimentos e valores culturais de uma geração a outra. Oriundos da tradição oral, transmitem a ideia de que o herói (ou heroína) tem de enfrentar grandes obstáculos antes de triunfar contra o mal.

São, em geral, iniciados pela expressão “era uma vez”, a fim de alertar o leitor sobre o fato de o tema narrado não se referir ao tempo e espaço presentes. Comportam personagens e situações que fazem parte do universo individual e cotidiano do ser humano (conflitos, medos e sonhos). Assim, a rivalidade entre gerações, a convivência entre crianças e adultos, a transitoriedade da vida (nascimento, crescimento, velhice e morte) e alguns sentimentos individuais (amor, ódio e inveja) são apresentados como uma forma de oferecer explicação para os conflitos do mundo em que vivemos e como um meio de criar formas de lidar com eles.

Há mais de um século, os contos de fadas e seu significado oculto têm sido estudados por seguidores de correntes diferentes da psicologia. Sheldon Cashdan, por exemplo, afirma que esses gêneros textuais abordam psicodramas da infância, espelhando lutas reais. Quer dizer, “embora o atrativo inicial de um conto de fadas possa estar em sua capacidade de encantar e entreter, seu valor duradouro reside no poder de ajudar as crianças a lidar com os conflitos internos que elas enfrentam no processo de crescimento” (Os 7 pecados capitais nos contos de fadas).

O autor prossegue dizendo que cada um dos principais contos de fadas é único, no sentido em que trata de uma predisposição falha ou doentia do eu. Ou seja, após a leitura da expressão “era uma vez”, descobrimos, de imediato, que esses textos falam de vaidade, gula, inveja, luxúria, hipocrisia, avareza ou preguiça – os “sete pecados capitais da infância”. E, embora um determinado conto de fadas possa tratar de mais de um “pecado”, um deles, geralmente, ocupa o centro da trama.

De resto, Cashdan salienta: “O modo pelo qual os contos de fadas resolvem esses conflitos é oferecendo às crianças um palco onde elas podem representar seus conflitos interiores. As crianças, quando ouvem um conto de fadas, projetam inconscientemente partes delas mesmas em várias personagens da história, usando-as como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu.”

(Texto publicado na Folha de Pernambuco, 11/11/2013, Opinião, p. 12)