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sábado, 4 de junho de 2011

Interpoética e a política de formação de leitores

Carminha Bandeira*

A vivência acumulada há mais de cinco anos, resultante da paixão pela poesia e levada a cabo por estes três mosqueteiros – Cida Pedrosa, Raimundo de Moraes e Sennor Ramos – já conferiu ao site Interpoética.com o status de primeiro Ponto de Cultura Virtual, além do pleno reconhecimento, por parte dos poetas, de sua condição de maior site de poesia de Pernambuco. (Abençoada seja a nossa megalomania!)

No entanto, cabe ainda destacar um valor agregado, que merece ser compartilhado pelos seguidores e indicado como reflexão aos que definem e executam as políticas públicas de leitura: - trata-se do potencial de sites como este, que é ao mesmo tempo ambiente de acesso à informação e ferramenta para o exercício da leitura e da escrita, colocado à disposição para formação de leitores.

Entre os anos de 2005 - 2009, enquanto coordenei o Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores (Secretaria de Educação do Recife), tive a oportunidade de constatar, por dentro, a importância desse acervo de A a Z, dedicado à poesia pernambucana. Seja pela qualidade, seja pela magnitude, o site é um exemplo vivo de organização de acervo, permanentemente atualizado e disponível para ser acessado livremente pelo público interessado.

A relevância dessa iniciativa tornou-se mais evidente, especialmente no ano de 2008 – quando os poetas pernambucanos foram escolhidos como homenageados do ano letivo -, o que implicou no desafio de colocarmos à disposição de mais de 100 mil estudantes, com idade entre 02 e mais de 60 anos, matriculados em mais de 200 escolas (é claro que nem todas as escolas estavam conectadas na internet) obras poéticas e referências biográficas do maior número possível de poetas.

Infelizmente, as bibliotecas escolares (nem as públicas) não estavam suficientemente abastecidas para atender àquela demanda. Naquele momento, através do Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores, havíamos instalado um processo de reestruturação e dinamização das bibliotecas escolares, mas por maior que fosse o nosso esforço e a nossa boa vontade, o que conseguimos levantar de acervo de poesia para tantos estudantes foi absolutamente irrisório.

Assim, uma das alternativas encontradas pela Secretaria de Educação foi editar um caderno, com seleção de doze poetas, incluindo uma pequena amostra de seus principais poemas e um texto com dados biográficos básicos, para distribuir aos estudantes e professores.

A outra saída veio com a descoberta do site Interpoética, que ampliou consideravelmente as possibilidades da pesquisa. Passamos a orientar os professores e mediadores de leitura a acessarem o site, que passou a ser a principal fonte de informação sobre o tema.

Podemos afirmar, sem exagero, que nunca se leu tanta poesia nas escolas municipais como naquele ano, e para nossa surpresa, nunca ficou tão claro o quanto a poesia é apreciada tanto pelas professoras e professores, como pelos estudantes, de todas as idades.

Desde as crianças de 02 a 06 anos, da Educação Infantil, aos adolescentes do Ensino Fundamental, estendendo-se aos adultos da EJA (60 anos ou mais), todos expressaram vivo interesse em ouvir, ler, dizer e participar dos saraus poéticos. Foi impressionante inclusive a adesão ao exercício da criação poética. Tantos poetas se revelaram inclusive os que não sabiam ainda escrever.

Naquele contexto, nasceu uma parceria formidável entre as equipes do Programa Manuel Bandeira e o Interpoética, que culminou na realização de dois projetos bem sucedidos: O Poeta de cara com a escola e A escola linkada na poesia.

 No primeiro, alguns poetas foram convidados para irem às bibliotecas escolares, dizer poesia, fazer saraus, interagir com os professores e estudantes no exercício da criação poética. No segundo, a experiência foi documentada processualmente, com a participação dos estudantes e disponibilizada no site. Numa outra etapa, as imagens editadas foram apresentadas para o grupo. Isso resultou na criação dos dois hotsites, com os nomes dos projetos, onde estão disponibilizadas as imagens, as criações, as aprendizagens desse processo, que podem ser acessados pelos leitores interessados.

Fazendo hoje uma retrospectiva dessa experiência, identifico importantes lições que podem ajudar a dimensionar ações e estratégias de políticas públicas de leitura:

A primeira se refere à importância do ambiente, para acondicionar adequadamente e disponibilizar os acervos e as informações para o público leitor. É claro que uma política de formação de leitores não se faz sem acervo, mas a experiência demonstra que ela não pode se restringir a distribuição de acervos e antes de começar a distribuir grandes quantidades de livro para as escolas é necessário preparar o ambiente para receber os livros e preparar pessoal para organizar e disponibilizar para empréstimo. A chegada dos livros às escolas sem a preparação prévia desse ambiente tem gerado muito transtorno à vida das escolas, gerando perdas consideráveis de livros, além de fazer com que sejam guardados da forma mais estapafúrdia, desde ficar trancados a sete chaves nos armários das diretorias, até irem parar nos almoxarifados e até em banheiros.

O ambiente pode ser virtual e temático, - como é o caso do Interpoética -, mas também pode ser físico e diversificado, como o que apontam as bibliotecas públicas, comunitárias e escolares. Esses ambientes devem ser amplos, acolhedores, adequadamente concebidos para acondicionar os livros, receber o público leitor (no caso das bibliotecas escolares, o grande número de estudantes) e propiciar situações interativas entre estudantes, professores, poetas, escritores, contadores de histórias, a começar pela comunidade e a cidade.

A segunda lição se refere à necessidade de articular esses dois ambientes: a biblioteca física e a biblioteca virtual. Essa articulação modifica radicalmente o conceito de biblioteca e rebate diretamente na identidade de um novo profissional, que mistura características de professor, bibliotecário, contadores de histórias, profissionais da comunicação e informação.

A concepção desse novo ambiente implica na ampliação do debate com diferentes setores e instituições da sociedade (universidades, profissionais de biblioteca e documentação, pessoal das tecnologias da informação e comunicação, pedagogos, poetas, escritores, leitores em geral) para refletirem sobre esse perfil e definirem programas de formação para mediadores de leitura.

A terceira lição se refere à relevância da Poesia enquanto gênero privilegiado na condução do processo de iniciação à leitura, seja pelas diferentes possibilidades que ela apresenta em lidar com a plasticidade da palavra, incluindo o ritmo, a sonoridade, a dimensão estética; além de desafiar a imaginação para a síntese e a formulação de conceitos e propiciar o exercício autoral.

Outro aspecto relevante da Poesia para a iniciação à formação do leitor / escritor, se refere ao fato de que a criação poética é um processo mental, que para se expressar de imediato, necessita da palavra, de forma que o poeta nasce antes de dominar a escrita.

Assim, a medida que o estudante ou leitor em formação se descobre poeta, inserido num processo compartilhado de produção de linguagem, se supõe que ele vá se sentir muito mais motivado a enfrentar o desafio de dominar a escrita, que passa a ter um sentido muito claro para ele. E isso é substantivamente diferente do que erradicar o analfabetismo, mas valorizar e incorporar a herança da tradição oral, que permanece tão viva em nosso meio, no processo compartilhado e ininterrupto de formação de leitores.

As pessoas, compartilhando processos de desenvolvimento e criação de linguagem, e gerando seus próprios acervos, devem ser a principal razão das políticas de leitura. E para que isso aconteça, é necessário investir no ambientes adequados, enquanto meios de produção de linguagens e construção de sujeitos.


*Carminha Bandeira é escritora e educadora - CEEL/UFPE.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A poesia de Roberto de Queiroz

Flávio Chaves* 

A poesia de Roberto de Queiroz é de “características fortes e de um valor cotidiano incomum. Traz em seu bojo a espontaneidade que deve seguir sempre unida ao bom poema [...]. Com versos curtos [...] consegue descrever o necessário sem as extravagâncias e as perdições que o prolongamento de um verso pode trazer”.


Carta, Recife, PE, 29 de novembro de 2001.

*Flávio Chaves é escritor, crítico literário e ex-presidente da UBE/PE.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um jovem poeta que nos vem de Pernambuco


Nelson Hoffmann*

Roberto de Queiroz é um jovem poeta que nos vem de Pernambuco e que já conhecemos há bom tempo. Tem poucos livros publicados, mas o que produz é sempre de primeira qualidade. Graduado e especializado em Letras, já foi laureado em certames literários realizados em Pernambuco, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo. É integrante de várias antologias. Cá entre nós, que já saboreamos muito a poesia de Roberto de Queiroz, uma sugestão: não deixem de ler o recém-lançado A nudez de escrever. É poesia pura.

Pedidos pelo e-mail robertodequeiroz@yahoo.com.br



Jornal O Nheçuano, Roque Gonzales, RS, abril/maio 2011, Autores & Livros, p.10.

*Nelson Hoffmann é escritor e crítico literário gaúcho.