A expressão “ave de arribação” remete a ave migratória, a qual, durante o inverno, voa para lugares mais quentes. No sentido figurado, pode remeter a
andarilho ou a coisa rara. Por esse critério, pode-se argumentar que, no poema “Poesia: ave de arribação”, Admmauro
Gommes personifica a poesia. Nesse contexto, ela pode ser vista como personagem que emigra
de outras paragens, ou seja, como ave migratória (não é do lugar nem tenciona
demorar-se nele): coisa rara.
No poema em tela, Gommes faz uma comparação explicitada entre “poesia” e
“ave de arribação”. E, nessa metáfora, ele compara a falta de criatividade (ou
de inspiração?) do poeta à de um menino com uma gaiola na mão, com o desejo
ardente de capturar uma “ave de arribação”, sendo que essa, segundo o autor,
“levanta voo no infinito / se confunde com a amplidão”.
Mais adiante, Gommes diz que o poeta não desiste fácil. “Ele fica na
espera (da poesia: “ave de arribação”) / na hora da revoada / pra ver se ela se ilude / e cai na sua jogada”.
O fato é que o poeta, às vezes, transita por dias improdutivos nos quais não
produz nada. Por outro lado, como diz um adágio popular: “Um dia é da caça, o
outro é do caçador.” E, nesse dia do caçador, essa “ave de arribação” (a poesia) perde a noção e vai
toda satisfeita ao encontro do menino (o poeta). E ele, astuto que é, em vez de
estar com uma gaiola na mão, “lhe prende no alçapão”.
De resto, vale salientar que, a meu juízo, esse é um dos mais bem
elaborados poemas de Admmauro Gommes. Não pelo fato de se tratar de um poema de
forma fixa (com rimas misturadas e versos heptassílabos), mas pela simplicidade
da linguagem e pela sua exímia carga metafórica. Carga metafórica? Sim! Há no
texto a metáfora e a personificação, mas é por meio da metáfora que a
personificação vem à baila, de modo que predomina a primeira.
(Texto publicado na Folha de Pernambuco, 01/01/2015,
Opinião, p. 12.)