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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Plural e singular

Roberto de Queiroz


Sou um autêntico admirador da poesia, bem como das pessoas que a compõem, pois é preciso elevar-se além e acima da consciência, e deixar-se condicionar pela sua verdadeira essência, para que então possa nascer uma composição poética.

Li Plural e singular, de Azimar Rocha, e parabenizo a autora pelo seu domínio aos versos livres (parte deles brancos). Não é fácil escrever poesia quando se trata de versos livres e, principalmente, quando se trata de versos brancos. Não é fácil diferenciá-los da prosa rítmica. Para isso, é preciso que haja neles uma unidade formal interior que só um verdadeiro poeta é capaz de produzir.

A obra expressa a coragem e a destemidez com que Azimar escreve. Torna públicas suas mais profundas singularidades, expõe seus sentimentos e pensamentos mais individuais, para que possam ser (re)interpretados por toda uma coletividade de outros pensamentos.

Em Plural e singular, Azimar, interiormente, mostra os anseios da própria alma. E esse feito superlativa sua coragem, pois, se não quisesse, não os haveria mostrado. E ninguém os podia ver ou imaginar, porquanto só a Deus compete saber os anseios da alma.

Gostei muito da organização da obra e também do que a autora escreveu. Porém todos os poemas dela devem render-se àquele do qual foi retirando um verso para titular o livro. Eis um fragmento dele: “[...] só depois, depois de muito cansaço / só depois / morrerá o amor [...] / porque o amor [...] / é assim: / ambíguo/ inteiro / plural e singular / múltiplo” (Poema O verdadeiro amor, p. 32).

Por fim, resta-me dizer que conheço muito pouco Azimar Rocha. Mas, apesar do pouco que a conheço, acredito na sua mensagem e na autenticidade da sua poesia.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Ramalhete de versos


Outro dia, recebi um exemplar do livro Ramalhete de versos, de Lúcio Mário, e, anexo a ele, o pedido da minha opinião. Li, atenciosamente, cada palavra, tão atenciosamente concentrado e preso que parecia vivenciar cada poema. Porém, ao finalizar todo o conjunto textual, perguntei a mim mesmo: “O que posso articular a esse respeito?”

Não posso, em hipótese alguma, fazer-lhe uma interpretação. Isso seria uma tentativa frustrada. Ramalhete de versos, na sua essência, é poesia; na sua forma, é uma obra de arte, e não há uma interpretação ou uma análise justa para com as obras de arte. Ambas, como disse Rilke: “[...] ou são opiniões partidárias petrificadas e tornadas sem sentido em sua rigidez morta, ou hábeis jogos de palavras inspirados hoje numa opinião, amanhã noutra. As obras de arte são de uma infinita solidão; nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica. Só o amor as pode compreender e manter e mostrar-se justo com elas”.[1]

Aqui, limito-me apenas a fazer um breve proferir à poética Lúcio-mariana, que se arraiga a poemas cuja leitura causa-nos prazer. Tal harmonia é oriunda de uma unidade formal interior, a qual só a um poeta pode ser inerente. E o amigo sabe muito bem manejar isso. Parabéns! Que continue ostentando em poesia a fertilidade da sua inteligência.

Roberto de Queiroz

Ipojuca (PE), maio de 2001.

(Apresentação. In: MÁRIO, Lúcio Mário. Ramalhete de versos. Ipojuca: Edição do Autor, 2001. p. 1)





[1] RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Trad. Paulo Rónai. 27. ed. São Paulo: Globo, 1997. p. 31-32.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Estratégias de leitura


Site desta imagem: grupoa.com.br

Estratégias de seleção: permitem que o leitor se atenha aos índices úteis, desprezando os irrelevantes. Ao ler, fazemos isso o tempo todo: nosso cérebro “sabe”, por exemplo, que não precisa se deter na letra que vem após o “q”, pois certamente será o “u”; ou que nem sempre é o caso de se fixar nos artigos, pois o gênero está definido pelo substantivo.
 
Estratégias de antecipação: tornam possível prever o que ainda está por vir, com base em informações explícitas e em suposições. Se a linguagem não for muito rebuscada e o conteúdo não for muito novo, nem muito difícil, é possível eliminar letras em cada uma das palavras escritas em um texto, e até mesmo uma palavra a cada cinco outras, sem que a falta de informações prejudique a compreensão. Além das letras, sílabas e palavras, antecipamos significados. O gênero, o autor, o título e muitos índices nos informam o que é possível que encontremos em um texto. Assim, se formos ler uma história de Monteiro Lobato chamada Viagem ao céu, é previsível que encontremos determinados personagens, certas palavras da astronomia e que, certamente, alguma travessura acontecerá.
 
Estratégias de inferência: permitem captar o que não está dito no texto de forma explícita. A inferência é aquilo que “lemos”, mas não está escrito. São adivinhações baseadas tanto em pistas dadas pelo próprio texto, como em conhecimentos que o leitor possui. Às vezes, essas inferências se confirmam, e, às vezes, não; de qualquer forma, não são adivinhações aleatórias. Além do significado, inferimos também palavras, sílabas ou letras. Boa parte do conteúdo de um texto pode ser antecipada ou inferida em função do contexto: portadores, circunstâncias de aparição ou propriedades do texto. O contexto, na verdade, contribui decisivamente para a interpretação do texto e, com frequência, até mesmo para inferir a intenção do autor.
 
Estratégias de verificação: tornam possível o controle da eficácia ou não das demais estratégias, permitindo confirmar, ou não, as especulações realizadas. Esse tipo de checagem para confirmar – ou não – a compreensão é inerente à leitura.
 
Utilizamos todas as estratégias de leitura mais ou menos ao mesmo tempo, sem ter consciência disso.

Fonte: <http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos>