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sábado, 8 de fevereiro de 2025

O conhecimento prévio na leitura

Roberto de Queiroz


A compreensão de um texto é influenciada pelo repertório de informações que o leitor adquiriu ao longo da vida. Esse repertório é chamado de conhecimento prévio e é composto basicamente por quatro segmentos distintos: conhecimento linguístico, conhecimento textual, conhecimento de mundo e conhecimento partilhado.

O conhecimento linguístico envolve a compreensão que uma pessoa tem acerca da fonética, do léxico e das regras de uso de um idioma. Trata-se de um conhecimento implícito, geralmente não verbalizado nem verbalizável, que habilita tal pessoa a falar uma língua de modo automático, ou seja, sem necessidade de uma análise detalhada de suas normas de utilização. Da mesma forma, esse conhecimento habilita o leitor de um texto a estabelecer relações entre fonemas e letras, compreender o significado de palavras e frases, relacionar os significados contidos nos parágrafos e adotar estratégias para antecipar o contexto.

O conhecimento textual refere-se à compreensão que o leitor tem a respeito de sequências textuais classificadas como tipos, de formas textuais classificadas como gêneros e dos elementos distintivos de cada uma dessas sequências e formas. As classificações comuns de tipos textuais englobam narração, descrição, exposição, argumentação, injunção e diálogo. Alguns exemplos de gêneros textuais são telefonema, e-mail, lista de compras, receita de culinária, reportagem, romance, novela, conto, crônica e poema.

O conhecimento de mundo (ou conhecimento enciclopédico) está armazenado na memória de todas as pessoas. Ele pode ser classificado como declarativo (quando compreende ideias relacionadas a fatos do mundo) ou procedural (quando incorpora modelos cognitivos definidos pela cultura e adquiridos através da experiência). Com base nesse conhecimento, o leitor pode formular hipóteses acerca dos conteúdos de um texto a partir de seu título. Além disso, pode criar expectativas em relação aos campos lexicais que serão explorados e fazer inferências para preencher lacunas identificadas na superfície textual.

O conhecimento partilhado está acondicionado na linguagem cotidiana. Isso indica que, durante a leitura de um texto, essa modalidade de conhecimento se constitui por intermédio de elementos comuns ao leitor e ao escritor. Assim, é possível dizer que o conhecimento partilhado representa a parcela de conhecimento de mundo que esses sujeitos partilham durante a leitura. Quanto maior for a partilha de conhecimento acerca do assunto abordado em um texto, mais fácil será para o leitor compreendê-lo. Mas é essencial que haja um equilíbrio entre o conhecimento que é comum ao leitor e ao escritor e as informações apresentadas no texto, a fim de evitar que ele se torne redundante ou de difícil compreensão.

Em face do exposto, é possível afirmar que, sem o envolvimento do conhecimento prévio, não have­rá compreensão textual.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

BARBOSA, Araken Guedes. A paráfrase como proposta lin­guístico-pedagógica para uso no ensino de línguas. 2005. Tese (Doutorado em Linguística – Programa de Pós-Gradua­ção em Letras e Linguística). Universidade Federal de Per­nambuco (UFPE), Recife, 2005. (Mimeo).

KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da lei­tura. 9. ed. Campinas, SP: Pontes, 2004.

QUEIROZ, Roberto de. Leitura e escrita na escola: ensino e aprendizagem. Rio de Janeiro: Multifoco, 2016.

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