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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A ascensão econômica de Ipojuca

Roberto de Queiroz

ARTE/DP
A ascensão econômica de Ipojuca teve início com a chegada de Duarte Coelho Pereira a Pernambuco, devido à atividade açucareira introduzida por ele no estado. Na época, a Capitania de Pernambuco cresceu aceleradamente e, em apenas 40 anos, já contabilizava mais de 60 engenhos, muitos deles localizados nas terras do município. A terra fértil e rica em massapé, propícia para o plantio da cana-de-açúcar, o Porto de Suape e a Praia do Porto (conhecida hoje como Porto de Galinhas) favoreceram esse crescimento.

Atualmente, Ipojuca tem o turismo como um de seus principais fatores econômicos, por causa de suas praias, visitadas por turistas de todo o mundo. A rede hoteleira e a gastronomia também estão entre os fatores responsáveis pela ascensão econômica do município.

Mas o Porto de Suape é o carro-chefe dessa ascensão. Foi pensado há algumas décadas para substituir o Porto do Recife, que não tinha espaço para se expandir nem condições de corresponder às exigências do crescente movimento do transporte marítimo. Associada a essa necessidade, se desenvolveu a ideia de construir um novo porto e um distrito industrial capaz de promover o desenvolvimento de Ipojuca e do Nordeste. Daí, nasceu o Complexo Industrial Portuário de Suape, baseado na integração porto-indústria, a exemplo de países como França e Japão.

(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 25/09/2014, Opinião, p. A8)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

MEC compra livros para quase ninguém ler

A escola pode desempenhar seu papel na formação de leitores se tiver um bom acervo de livros de literatura à disposição dos estudantes, professores que gostem de ler, organizem estratégias para apresentar os livros, levem os estudantes para visitar bibliotecas e outros equipamentos culturais da cidade e desenvolvam projetos de leitura. Mas, na prática, isso nem sempre acontece. Parece piada, mas o MEC gasta (todos os anos) uma quantia muito alta com compra de livros para quase ninguém ler. Apenas para gastar dinheiro público. A maioria das escolas brasileiras não dispõe de bibliotecas. São raras as escolas que não “guardam” o acervo enviado pelo MEC na base do improviso. Bibliotecário? Nem pensar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O gosto pela leitura

Antonio Barbosa*

Felicíssimo o artigo do escritor Roberto de Queiroz, 'A formação do leitor literário na escola' (Diario, 02.09.14). Ele escreveu: "(...) defendo a ideia de que a leitura de textos literários na escola pode ser uma leitura sem amarras (uma leitura que seduz e encanta o leitor e induz ao gostar de ler), mas a mediação do professor desempenha um papel fundamental na realização desse processo". E mais: "(...) o espaço escolar é o lugar da experimentação e esta se dá à medida que o aluno é desafiado a ler textos (...); a escola precisa mostrar aos alunos a importância da leitura e o conhecimento dos aspectos que a envolvem, além de apresentar, de forma qualificada, textos (...) sob o olhar atento e orientador de um professor-leitor".

Esses entrechos acima foram pinçados do artigo do escritor Roberto de Queiroz, e serve as nossas reflexões por dois motivos principais. O 1º; há uma preocupação no reino do MEC quanto ao elevado número de jovens analfabetos funcionais: leem, mas não sabem interpretar o que leram. O 2º; o envolvimento do professor é fundamental para que o aluno tenha um interesse (maior) pela leitura a partir da sala de aula. O enunciado, aliás, me diz muito de perto, por ter aprendido a gostar de ler através do ex-professor Marcos Vilaça quando ginasiano. Ele nos estimulava, citando autores, nacionais e internacionais e, teatralizou o júri simulado de Dreyfus, como prática de interpretação e desinibição. Na faculdade o saudoso professor Marcos de Barros Freire fazia com que lêssemos os editoriais e artigos de opinião dos nossos jornais, que nos poria antenados com os acontecimentos importantes da política, dos negócios, das artes, etc.

Destarte, nesse espaço que o Diario nos concede, já dei alguns exemplos de adolescentes que tornaram-se escritores, como foi o caso de Felipe (17 anos), que escreveu o romance "Desejos Obscuros" e de Kaline Felix (16 anos) que escreveu "Eu Odeio Amar Você" e, de João Vitor (13 anos), que está terminando um livro de contos ainda sem título (ver; "Os escritores adolescentes e a presidenta", Diario de 12.07.2013). Os dois primeiros alunos citados estudam no Centro de Ensino Supletivo do Sesi/Centro, e o último, na Unidade Roberto Egídio de Azevedo.

* Antonio Barbosa é diretor regional do Sesi/PE
(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 12/09/2014, Opinião, p. A8)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A formação do leitor literário na escola

Roberto de Queiroz
GREG/DP
A escritora Tatiana Belinky, falando sobre como estimular o prazer da leitura na escola, disse o seguinte numa entrevista: “Há coisas que não se manda fazer, elas acontecem. E a leitura é uma delas. O leitor é livre. Você lê para você mesmo, para seu divertimento, para sua emoção, não tem obrigação de coisa nenhuma. Você começa a ler e vai logo perceber que é bom. Uma história bem contada pode fazer alguém chorar ou rir, isto é, pode prender o leitor” (Na ponta do lápis, nº 12, dez. 2009). Mas como fica a liberdade do leitor iniciante? Como é que alguém pode escolher o que não conhece?

Para Caio Riter, se cada aluno tem a liberdade de ir à biblioteca e escolher o livro a ser lido, ele é o responsável por sua formação leitora. Assim, quando é convidado para apresentar, apresenta “sua visão de leitura, não havendo na sala de aula espaço para a interação com diferentes leitores, em diferentes níveis de leitura, visto que poucos (ou apenas um) terão lido aquele texto, correndo-se o risco, inclusive, de o próprio professor não ter a mínima noção sobre o que trata cada um dos livros lidos por seus alunos” (A formação do leitor literário em casa e na escola, Biruta, 2009).

O escritor italiano Italo Calvino (1923-1985) disse certa vez que “ler é um ato de liberdade, mas para quem já [...] foi formado pela escola como leitor. Ou seja, o espaço escolar é o lugar da experimentação e esta se dá à medida que o aluno é desafiado a ler textos que passaram pelo critério de qualidade do professor e/ou que atendem a algum objetivo, cuja realização se faz necessária”.

Desse modo, a liberdade do leitor iniciante pode ser respeitada “quando a escola, através da obrigatoriedade da leitura e de uma prática metodológica que assegure espaço para a reflexão e para o deleite, forma leitores qualificados. A escola precisa mostrar aos alunos a importância da leitura e o conhecimento dos aspectos que a envolvem, além de apresentar, de forma qualificada, textos [...] cuja leitura, se não realizada na escola, sob o olhar atento e orientador de um professor-leitor, muitas vezes jamais ocorrerá” (Riter, op. cit.).

Em suma, pedir simplesmente que os alunos leiam um texto qualquer, sem a análise criteriosa e sem o planejamento prévio do professor, é coisa que pode parecer aula de leitura a um desavisado, mas, obviamente, não corresponde aos critérios de leitura como conteúdo em sala de aula. Ou seja, defendo a ideia de que a leitura de textos literários na escola pode ser uma leitura sem amarras (uma leitura que seduz e encanta o leitor e induz ao gostar de ler), mas a mediação do professor desempenha um papel fundamental na realização desse processo.


(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 02/09/2014, Opinião, p. A6)