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sábado, 12 de dezembro de 2015

Os sete monstros de Camela

Texto produzido e ilustrado por estudantes do 5º ano da escola Municipal Agro Urbana, localizada no distrito Camela, município de Ipojuca/PE, sob orientação do professor Roberto de Queiroz. Tanto o texto quanto a ilustração em apreço resultam de um concurso que envolveu diferentes gêneros textuais e contemplou estudantes de toda a rede municipal de Ipojuca (da pré-escola ao 9º ano do ensino fundamental). Ambos foram aprovados pela comissão organizadora do certame e integram uma obra coletiva cujo título é “Ipojuca sob o olhar dos estudantes” (Imeph, 2015)*


Em uma noite de lua cheia, em um vilarejo chamado Camela, uma bruxa fazia leite para seus sete gatos. Sem que percebesse, sua verruga caiu dentro do leite. Depois do leite pronto, a bruxa o colocou em um pires para os gatos.

Mas o fato é que um mendigo observara a bruxa enquanto ela colocava o leite para os gatos. Assim, quando a bruxa entrou em sua casa, o mendigo atravessou a rua, chegou à casa dela e bebeu o leite.

Depois que o mendigo bebeu o leite, aconteceu um feitiço: ele se transformou em um bruxo muito malvado e começou a fazer maldade com as pessoas.

Após sete dias, o bruxo se transformou em leite de novo, então os gatos beberam o bruxo leitoso. Depois que beberam o bruxo, cada um dos sete gatos se transformou em um monstro voador (com cara de leão e rabo de dragão) que soltava fogo pela boca e passaram a aterrorizar os moradores.

Os sete monstros foram abatidos a tiros de rifles por sete caçadores, mas reza a lenda que até hoje assombram as pessoas em noite de lua cheia.

*(SILVA, Ludmilla Mendonça da Silva [texto]; MACEDO, Cleverson Divi de Barros [ilustração]. Os sete monstros de Camela. In: Ipojuca sob o olhar dos estudantes (obra coletiva). Fortaleza: Imeph, 2015, p. 34)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Roberto de Queiroz e a guinada poética

Admmauro Gommes*

Roberto de Queiroz / reprodução do Facebook
Roberto de Queiroz dá uma guinada em sua poesia. Com lastros de filosofia, sua poética adentra os caminhos da religiosidade e das essências atemporais do homem, que é o deslumbramento diante do Eterno. É isso que tenho repetido recentemente: a poesia não é para dizer nada, mas sempre diz tudo.

No poema “Pot-pourri”, o autor mostra mais que o conhecimento profundo da poética de nosso tempo, que enveredará sempre pelas metáforas cada vez mais fechadas. Nesta linha, poderia citar pelo menos uma dúzia, em seu texto, mas para demarcar o território deste novo tempo robertiano, transcrevo apenas  “... taça de carne de Salomão”. Na verdade, é preciso ter um conhecimento milenar, rompendo a costumeira interpretação do sagrado para se compreender apenas um verso.

Nisso Vital Corrêa de Araújo tem razão: um verso vale mais que uma odisseia. Correção: um verso grandioso, como qualquer desses de “Pot-pourri” do pernambucano Roberto de Queiroz.

Eis o poema em comentário, na íntegra:

I. O olho do sol do polo Norte se fecha, congela o vento e cristaliza a neve: açúcar do confeito da Terra.

II. O olho do segundo sol se abre e realinha a órbita dos planetas: marionetes do dedo do Universo.

III. A mistificação do purgatório prognostica a idealização do inferno de Dante: consequência reflexa de crenças milenares.

IV. O achamento do paraíso perdido e a perda do paraíso recuperado de Milton ensaiam sobre a cegueira de Saramago: retrato fidedigno do materialismo.

V. Na taça de carne de Salomão, o vinho é certamente mais aromático e mais saboroso que nos pseudocristais modernos e provavelmente há ali toxidade zero: êxtase cromático do cântico dos cânticos.”

* Admmauro Gommes é poeta, professor de Língua Portuguesa, Teoria Literária e Literatura Brasileira da FAMASUL (Palmares/PE)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A lectoescritura em Roberto de Queiroz

Admmauro Gommes*


Para Horácio, um dos maiores poetas da Roma antiga, a poesia devia “instruir e deleitar, ou deleitar instruindo”. Atualizando esta sentença, diria Roberto de Queiroz que a leitura, para ser eficiente, deve deleitar enquanto instrui.

Em texto publicado na Folha de Pernambuco (15/05/2015, Opinião, p. 8), Queiroz reconhece que “os estudantes da educação básica das escolas públicas brasileiras demonstram não gostar de ler nem de escrever”. Gostar ou não gostar, parece-me não ser bem a questão, mas os motivos pelos quais não se gosta. Na sequência, o autor aponta uma falha que distorce os encaminhamentos oriundos dos tantos encontros pedagógicos que acontecem no âmbito das formações continuadas nas redes públicas de ensino: um evidente afastamento entre a teoria e a prática. Há ainda outros pontos nevrálgicos que inibem o aluno diante do texto escrito, mas um deles se pode destacar com o reconhecimento da maioria.

Uma das constatações mais perturbadoras, para quem pensa em transformar o mundo através da educação, é que nem sempre o problema está com o estudante. É preciso mudar antes a cabeça do professor. Roberto entende que a “aversão à leitura e à escritura por esses estudantes pode resultar do modo como essas atividades são trabalhadas na escola, quer dizer, é possível que elas sejam trabalhadas sem que se leve em conta a realidade etária e sociocultural deles”. Por este prisma, nota-se que a situação é mais intrigante. Sem conhecer “essa” realidade, todo ensino cai no vazio, sem nenhuma ressonância positiva, pois o entendimento do aluno não alcança a linguagem do professor. Enquanto não se aproximarem estes elementos, mesmo com a presença do emissor e do receptor, a mensagem não é decodificada. E, naturalmente, a prática de leitura não proporciona o aprendizado da escritura, como diz o autor.

Neste ponto da discussão, alinham-se Horácio e Roberto. Este defende a leitura como instrumento de prazer (Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem, p.19) e cita Tatiana Belinky, Daniel Pennac, William Roberto Cereja e Marcos Bagno como apoiadores dessa premissa. Queiroz chega à conclusão que ler por obrigação “é um dos motivos para o fato de o prazer da leitura até agora ser pouco acentuado no Brasil e as escolas formarem um número insignificante de leitores” (op. cit. p. 21).

Também entendo deste modo. E acrescento: O prazer da leitura deve contaminar primeiro o professor, depois alastrar-se pelos corredores da escola, envolvendo diretores, coordenadores e, inevitavelmente, o estudante. Se este caminho for percorrido, Horácio e Roberto de Queiroz hão de se contentar.

* Admmauro Gommes é poeta, professor de Língua Portuguesa, Teoria Literária e Literatura Brasileira da FAMASUL (Palmares/PE)

(Texto publicado na Folha de Pernambuco, 18/08/2015, Opinião, p. 6)

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quinta-feira, 11 de junho de 2015

Educação Física no Ensino Fundamental

Roberto de Queiroz


Defende-se a tese de que a Educação Física seja componente curricular específico na primeira fase do Ensino Fundamental. Há secretários de educação municipais e estaduais e funcionários do Ministério da Educação que resistem a essa ideia. Os opositores alegam, entre outras coisas, que, nos anos iniciais de escolaridade, não há um professor específico para cada componente curricular. Assim, o professor lotado nessa modalidade de ensino atende às necessidades dos estudantes em todos os componentes curriculares e, por sua vez, devem atendê-las também quanto às aulas de Educação Física.

As autoridades educacionais responsáveis pela elaboração/manutenção dos currículos escolares brasileiros estão convencidas de que a Educação Física é algo absolutamente desnecessário no processo de formação dos estudantes da primeira fase do Ensino Fundamental. Porém estão totalmente equivocadas. Compete a nós, professores, comprovar isso. O fato é que nossos argumentos parecem ser ainda muito frágeis.

Não dou crédito à defesa corporativista da Educação Física como componente curricular no Ensino Fundamental. Os profissionais da área devem ser convincentes quanto a sua necessidade e importância para o desenvolvimento social e intelectual dos estudantes matriculados na modalidade de ensino em tela. E devem fazer isso por meio de argumentos científica e filosoficamente sólidos, no intuito de demonstrar a devida competência para ministrá-la.

É óbvio que o professor da primeira fase do Ensino Fundamental, o qual ministra aulas de seis componentes curriculares (Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências e Arte, respectivamente), não se sente preparado, nem seguro, e não reúne as condições estruturais para dar conta dos conteúdos de Educação Física. E, desse modo, os estudantes acabam arcando com o prejuízo.

Defendo, portanto, a ideia de que, nessa modalidade de ensino, sejam contratados professores específicos por componente curricular. Inclusive, de Educação Física. Não vejo mal algum em, já a partir do primeiro ano do Ensino Fundamental, os estudantes terem contato com professores de componentes curriculares específicos. Não há provas de que tal contato os prejudique de alguma forma. Pelo contrário, com a redução de sete componentes curriculares para um, em sua jornada semanal, o professor terá mais tempo para ler, estudar e planejar suas aulas. E os estudantes, logicamente, serão beneficiados com isso.

(Artigo publicado no jornal Gazeta do Oeste, Mossoró/RN, em 11/06/2015, Opinião, p. 2)

sábado, 9 de maio de 2015

Valores invertidos

Roberto de Queiroz

Na Europa do século 17, o estudo era um privilégio apenas das pessoas que ocupavam uma posição de destaque na sociedade (por nobreza ou riqueza), a saber, o direito de estudar era negado às pessoas pobres. Os professores eram confinados em conventos, servindo ao clero e, obviamente, à nobreza. A maioria das pessoas, por ignorância, contentava-se com poucos privilégios. O que prevalecia, na época, era a ideia de que “assim como um corpo que tivesse olhos em todas as suas partes seria monstruoso, da mesma forma um Estado o seria, se todos os seus súditos fossem sábios; ver-se-ia aí tão pouca obediência, quanto o orgulho e a presunção seriam comuns” (cardeal De Richelieu).

Hoje, porém, o pensamento europeu sobre a educação é outro. Não é o caso do Brasil. Em pleno século 21, a mentalidade de uma parcela significativa dos políticos brasileiros ainda continua arraigada ao pensamento do cardeal De Richelieu (político de quatro séculos atrás). Assim, a má qualidade da educação brasileira ainda é reflexo do pensamento richeliano. Quer dizer, as pessoas ignorantes são fáceis de ser manipuladas, com medidas “emergenciais”, políticas “assistencialistas”, etc., de sorte que elas são, por sua extrema ignorância, responsáveis pela (re)eleição de políticos desonestos e, por sua vez, incompetentes que “atuam” Brasil afora.

Em meio a esse fogo cruzado, estão os professores, que não têm seu trabalho reconhecido pela maioria das pessoas, posto como essa maioria não sabe que goza do direito de ter uma educação de qualidade e, portanto, se porta indiferente em relação às questões que dizem respeito a essa temática. Desse modo, tal maioria não atribui aos professores o papel que lhes é de direito. Algumas dessas pessoas atribuem a eles o papel de um pai, outras lhes atribuem a função de babá. E (pasmem!) há ainda pessoas que atribuem aos professores a função de seus empregados. Infelizmente, são pouquíssimas as pessoas que os consideram como os profissionais que eles realmente são.

Não bastasse tudo isso, os professores ainda são obrigados a dar aulas em salas superlotadas e sem infraestrutura adequada. E (o que não é raro) a ter de lidar com problemas de indisciplina, ficando quase sempre impotentes perante um “estado de direito” que aliena as que pessoas que quer manter ignaras. Assim, os valores são invertidos e os professores muitas vezes são vistos pelos próprios estudantes como um obstáculo que estes têm de enfrentar e vencer. Essa inversão de valores sobrepuja e diálogo entre professores e estudantes e, consequentemente, impossibilita o entendimento. Por esse motivo, os professores têm perdido credibilidade perante os estudantes e têm se tornado impotentes e solitários, numa “luta” que é só sua.

Salvem-se as exceções, é claro!

(Artigo publicado no Jornal do Commercio, 07/05/2015, Opinião, p. 10)

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

“Uma abordagem consciente, séria e esclarecedora”

Inês Hoffmann e Nelson Hoffmann*


Roberto de Queiroz publicou livro que interessa, e muito, num mundo em que o livro perde terreno diariamente. O livro Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem é uma abordagem consciente, séria e esclarecedora de quem é professor e trabalha com leitura em sala de aula. Basicamente, o livro é dividido em duas partes: objetivos e funções da leitura e o conhecimento prévio na leitura. Na primeira parte, pode-se observar [...] o “porquê” e “para que” ler; na segunda parte, são comentados os pré-requisitos para uma boa leitura.  

(Jornal O Nheçuano, Roque Gonzales, RS, março/abril 2014, Autores & Livros, p.10)
* Inês Hoffmann e Nelson Hoffmann são escritores e críticos literários gaúchos.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Ave de arribação

Roberto de Queiroz



A expressão “ave de arribação” remete a ave migratória, a qual, durante o inverno, voa para lugares mais quentes. No sentido figurado, pode remeter a andarilho ou a coisa rara. Por esse critério, pode-se argumentar que, no poema “Poesia: ave de arribação”, Admmauro Gommes personifica a poesia. Nesse contexto, ela pode ser vista como personagem que emigra de outras paragens, ou seja, como ave migratória (não é do lugar nem tenciona demorar-se nele): coisa rara.

No poema em tela, Gommes faz uma comparação explicitada entre “poesia” e “ave de arribação”. E, nessa metáfora, ele compara a falta de criatividade (ou de inspiração?) do poeta à de um menino com uma gaiola na mão, com o desejo ardente de capturar uma “ave de arribação”, sendo que essa, segundo o autor, “levanta voo no infinito / se confunde com a amplidão”.

Mais adiante, Gommes diz que o poeta não desiste fácil. “Ele fica na espera (da poesia: “ave de arribação”) / na hora da revoada / pra ver se ela se ilude / e cai na sua jogada”. O fato é que o poeta, às vezes, transita por dias improdutivos nos quais não produz nada. Por outro lado, como diz um adágio popular: “Um dia é da caça, o outro é do caçador.” E, nesse dia do caçador, essa “ave de arribação” (a poesia) perde a noção e vai toda satisfeita ao encontro do menino (o poeta). E ele, astuto que é, em vez de estar com uma gaiola na mão, “lhe prende no alçapão”.

De resto, vale salientar que, a meu juízo, esse é um dos mais bem elaborados poemas de Admmauro Gommes. Não pelo fato de se tratar de um poema de forma fixa (com rimas misturadas e versos heptassílabos), mas pela simplicidade da linguagem e pela sua exímia carga metafórica. Carga metafórica? Sim! Há no texto a metáfora e a personificação, mas é por meio da metáfora que a personificação vem à baila, de modo que predomina a primeira.

(Texto publicado na Folha de Pernambuco, 01/01/2015, Opinião, p. 12.)