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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Roberto de Queiroz e a guinada poética

Admmauro Gommes*

Roberto de Queiroz / reprodução do Facebook
Roberto de Queiroz dá uma guinada em sua poesia. Com lastros de filosofia, sua poética adentra os caminhos da religiosidade e das essências atemporais do homem, que é o deslumbramento diante do Eterno. É isso que tenho repetido recentemente: a poesia não é para dizer nada, mas sempre diz tudo.

No poema “Pot-pourri”, o autor mostra mais que o conhecimento profundo da poética de nosso tempo, que enveredará sempre pelas metáforas cada vez mais fechadas. Nesta linha, poderia citar pelo menos uma dúzia, em seu texto, mas para demarcar o território deste novo tempo robertiano, transcrevo apenas  “... taça de carne de Salomão”. Na verdade, é preciso ter um conhecimento milenar, rompendo a costumeira interpretação do sagrado para se compreender apenas um verso.

Nisso Vital Corrêa de Araújo tem razão: um verso vale mais que uma odisseia. Correção: um verso grandioso, como qualquer desses de “Pot-pourri” do pernambucano Roberto de Queiroz.

Eis o poema em comentário, na íntegra:

I. O olho do sol do polo Norte se fecha, congela o vento e cristaliza a neve: açúcar do confeito da Terra.

II. O olho do segundo sol se abre e realinha a órbita dos planetas: marionetes do dedo do Universo.

III. A mistificação do purgatório prognostica a idealização do inferno de Dante: consequência reflexa de crenças milenares.

IV. O achamento do paraíso perdido e a perda do paraíso recuperado de Milton ensaiam sobre a cegueira de Saramago: retrato fidedigno do materialismo.

V. Na taça de carne de Salomão, o vinho é certamente mais aromático e mais saboroso que nos pseudocristais modernos e provavelmente há ali toxidade zero: êxtase cromático do cântico dos cânticos.”

* Admmauro Gommes é poeta, professor de Língua Portuguesa, Teoria Literária e Literatura Brasileira da FAMASUL (Palmares/PE)