Estes
relatos, que tratam das memórias da iniciação ao aprendizado da leitura, das
coordenadoras e coordenadores pedagógicos das escolas municipais de Ipojuca,
constituem o marco inicial da trajetória do projeto de formação de mediadores
de leitura, intitulado: Nas ondas da
leitura: a literatura na escola, coordenado pelo CEEL (Centro de Estudos em
Educação e Linguagem – UFPE) com apoio do ICC (Instituto Camargo Correia). Tais
relatos vieram à tona no primeiro dia da formação, em 03.03.2011, durante o
momento da apresentação do grupo, quando foi solicitado que os participantes
acrescentassem aos seus dados de identificação, lembranças relevantes sobre
como se deu a introdução de cada um ou de cada uma no mundo da leitura. Os
relatos transcritos aqui foram, portanto, produzidos inicialmente na modalidade
oral, sendo depois escritos pelos participantes.
Entre
os aspectos que chamaram a atenção no conjunto dos relatos, destaca-se a
importância atribuída à mãe, em primeiro lugar e, em seguida, ao pai, como os
agentes que mais se empenharam na tarefa de conduzir os filhos para este
aprendizado. É grande o reconhecimento do quanto o papel dessas pessoas foi
determinante, seja na atitude de matricular os filhos na escola; seja
acompanhando as tarefas de casa; seja ensinando as primeiras letras na carta do
ABC; ou comprando livros de literatura e contando histórias para os filhos.
Constatou-se em alguns casos, pais, mães ou avós que eram adeptos da tradição
de contar histórias para os filhos e outras crianças, à noite, nas calçadas das
cidades ou povoados do interior. Esses momentos, comumente, incluíam a leitura
ou o relato das histórias da Bíblia.
As
professoras também foram frequentemente lembradas nos relatos apresentados a
seguir. Explicando como as educadoras faziam para incentivar nos alunos o gosto
pela leitura, os depoimentos afirmam que elas costumavam apresentar os livros
antes de ler as histórias; incentivavam a leitura em voz alta; faziam
dramatizações; orientavam a criação de histórias a partir das imagens ou
sugeriam que recriassem as histórias, interferindo e modificando o enredo. Os
depoimentos, portanto, confirmam a importância de mediadores que despertem em
nós o gosto pela leitura, apresentem os livros e compartilhem sua paixão por
certos autores e títulos. Vamos, então, aos relatos!
TURMA DA MANHÃ
1. Simone Maria da Silva
Souza
Lembro-me, como se fosse hoje, os ensinamentos dados pela minha mãe. Mesmo
sendo uma pessoa analfabeta, era riquíssima em conhecimento da vida. Ela foi,
é, e sempre será a minha musa inspiradora, pois foi ela quem me incentivou a
entrar no mundo da leitura, dando-me oportunidade de ser alfabetizada mesmo
antes de entrar na escola. Como é gostoso voltar no tempo e vê o quanto a
leitura me fez tão bem! Recordo-me também que os patrões da minha mãe
constantemente compravam gibis para mim, dando oportunidade de adentrar nessa descoberta.
Um dos livros que marcou a minha infância foi O patinho feio, que tanto amava ler. Hoje me considero uma pessoa
apaixonada pela leitura.
2. Rita de Cássia Leite dos Santos
Fui
para a escola muito cedo para a época – aos cinco anos -, pois minha mãe
trabalhava e me deixava com sua amiga, que é professora, numa escola, no
horário da manhã. Assim iniciei como ouvinte e fui bem recebida. Não me lembro do
momento certo que aprendi a ler e escrever, porém acredito que esse processo
aconteceu num clima de muita afetividade, pois me fica o sentimento de alegria
e segurança ao recordar essa época. Segundo a minha mãe, isso aconteceu entre 6
e 7 anos. Ela sempre me despertava a curiosidade, me mostrando os livros com
imagens e figuras grandes, bem coloridas. Hoje em dia, só leio literaturas
relacionadas ao meu trabalho e estudo. Não tenho o hábito de ler para deleite,
pois o tempo é pouco. Acredito que a leitura contextualizada é muito mais prazerosa
e significativa. A minha história de vida com a leitura foi promovida com
afetividade, carinho e com muita alegria, por isso tenho certeza que foi um dos
principais motivos para começar a ler e escrever tão cedo.
3. Lucidalva Maria Valentim
Eu
sou filha de uma professora com pai analfabeto. Quando era criança, morava no
engenho e aprendi a ler aos nove anos de idade. Lembro-me que aprendi a ler as
primeiras palavras com minha professora Elpídia, hoje falecida. Quando comecei
a ler e entender o que lia, não parei mais. Lia tudo que via ao meu redor.
Naquele momento de descoberta, também passei a escrever meus bilhetes para
minha mãe que tinha muito orgulho e mostrava meus bilhetes para seus alunos. No
início, eu lia gibis, clássicos infantis, textos de livros didáticos, revistas
e fotonovelas e também gostava de desenhar e escrever a história dos desenhos.
Na visão que tenho hoje, quem faz da leitura um hábito tem bom argumento e
escreve sem cometer tantos erros ortográficos. Por isso a leitura me faz
crescer a cada dia.
4. Elizabete da S. Medeiros Oliveira
Aos
5 anos de idade senti vontade de aprender a ler e não tinha condições de ir
para escola. Meu pai teve o interesse de ensinar seus filhos a ler e escrever.
Quando completei sete anos, minha mãe fez minha matricula na alfabetização em
uma escola da rede municipal, daí quando a professora fez a sondagem observou
que eu tinha condições de ficar na 1ª série. Eu lia muito gibi, Sabrina e
fotonovela em casa com meu pai. Hoje trabalho na Educação Especial e peço muito
para os professores trabalhar a leitura de imagem com seus alunos, pois eu
gosto muito de leitura de imagem. Faz lembrar quando eu era criança e pegava
alguns livros com gravuras e começava a fazer minhas histórias.
5. Maria Amélia dos Santos
Quando
eu via crianças irem para a escola eu sentia vontade de estudar, às vezes até
chorava. Quando completei sete anos, minha mãe falou com a professora: – minha
filha quer estudar. A professora falou: – mande ela vir na parte da manhã e
traga um tamborete para ela sentar. A sala de aula era na casa da professora e
quando cheguei naquele ambiente, fiquei atenta a tudo: a jarra para tomar água;
o lugar de fazer pipi atrás do matagal; o quadro para escrever. Comecei a
aprender na cartilha do ABC, decorando tanto o alfabeto quanto as sílabas e até
os versinhos que ficava no final. Eu ficava sempre relembrando e quando
esquecia, perguntava para as minhas tias, pois meus pais eram analfabetos. Com
seis meses de aula, já sabia juntar as sílabas formando pequenas palavras e
depois as frases. Eu não lembro se a professora contava historias ou fazia
leitura para nós, pois era sala multisseriada. Só me lembro das brincadeiras
com as coleguinhas como: passarai; dança da carrocinha; margarida, rica, rica;
pular corda, jogar pedrinhas; esconde-esconde, que a gente brincava no recreio.
Lembro-me também das festas de quebra panela no final do ano e do meu primeiro
desfile no dia sete de setembro. No outro ano eu já passei a estudar na 2ª
série foi quando ganhei o meu primeiro livro chamado Nordeste. Eu gostei tanto
do livro! Tinha o maior zelo pelo companheiro de todos os dias eu guardei-o por
muitos anos. Durante minha infância eu gostava muito de ouvir histórias, adivinhações,
trava línguas, advérbios e poesias. Aprendia e depois contava para os meus
amiguinhos. No sítio da vovó tinha uma casa de farinha eu sempre ia pra lá.
Quando o Sr. Severino Honorato ia fazer farinha, eu ia ajudar raspar a mandioca
para ouvir ele contar histórias de princesas, fadas e comadre fulozinha. Para
mim aquele era um momento mágico e eu ficava viajando com aquelas aventuras. Na
comunidade também tinham os coco de roda, onde eu ouvia e aprendia versos,
geralmente durante as festas juninas. Os violeiros se juntavam para criar
tantos versos que e ficava admirada com aquela sabedoria. A literatura de
cordel era passando de mãos em mãos, quem não lia ouvia, aquilo era uma
felicidade.
6. Roberto de Queiroz
Aprendi
a ler por meio da Cartilha do ABC. A princípio, meu pai me ajudava,
ensinando-me o alfabeto. Depois, minha mãe me colocou para ter aulas
particulares com uma pessoa que ministrava aulas em sua residência. Detalhe: a
pessoa não era formada na área, ou seja, não possuía qualificação estabelecida
por lei para esse fim. Mas eu aprendi. E muito rápido. Desse modo, quando
entrei na escola eu já sabia ler e escrever. Entrei fora de faixa, com oito
anos. A idade para ingressar na 1ª série na época era sete anos. E, na escola,
o primeiro livro que com que tive contato foi Brincando com as palavras, de
Joaninha de Souza. Nesse livro, um texto me chamou atenção em particular: Artes
do Zezé, um excerto do livro Meu pé de laranja lima, de José Mauro de
Vasconcelos. A partir daí, passei a ter contato com outros livros didáticos e a
observar /analisar textos de outros autores. Esses livros didáticos me
proporcionaram contato com textos de autores como Drummond, Vinicius, Cecília
Meireles e Cabral, entre outros. De modo que, durante minha infância e
adolescência, todo o contato que eu tive com os textos literários, se resumia
aos livros didáticos. Já na fase adulta, tive a oportunidade de ler Meu pé de
laranja lima e O Pequeno Príncipe, ambos presentes de um ex-chefe. Hoje eu compro
meus próprios livros.
7. Vandilma Barros de Jesus
Sempre
tive uma ligação muito forte com a leitura. Desde cinco anos de idade fui à
escola, lá aprendi as primeiras letras, aprendi juntar as letrinhas por fim
aprendi a ler. Depois dessa descoberta, vi nas historias em quadrinhos (gibis)
coisas alegres, engraçadas e tristes. Nas revistas de fotonovelas, vi os
primeiros beijos. Depois, nas Julias, Sabrinas e Biancas, descobri as belas
histórias de amor. Por mim, graças a Deus, sempre passaram professores
comprometidos com o saber do educando, tornando assim os adultos leitores. Hoje
adulta, sou professora de literatura! Leio e ensino aos meus alunos como a
leitura ajuda a crescer e orienta o ser humano a ter uma vida melhor. Digo
sempre: “Quem não lê é limitado”. Gosto da leitura porque A leitura me encanta
A leitura me fascina Na leitura me encontro Na leitura me emociono Na leitura
me realizo Por fim pela leitura Sou apaixonada.
8. Elizângela Ximenes de Albuquerque
Tomei
gosto pela leitura aos 09 anos quando estudava na 4ª série com a professora
Telma Lúcia. Ela incentivava a leitura através de livros de literatura onde
líamos e organizávamos as equipes para dramatizar as histórias lidas nos
livros. Cada um ficava com um ou mais personagens. Era maravilhoso, muito
gostoso! Foi um momento inesquecível da minha vida!
9. Ana Célia Feitoza Guimarães
Começo
tentando resgatar os momentos iniciais de minha vida leitora. Tento e só me vem
à memória os gibis que ganhava de meus pais: Bolota e Luluzinha. Nem sabia ler
os balões, mas lia as imagens e observava as letras, tentava entendê-las. No
final, acho que conseguia compreender a história, isso lembro bem. Outro
momento foi às vezes que acompanhava minha irmã em suas tarefas de casa. Ela já
ia para a escola e todo dia ficava na mesa com seus cadernos e livros. Eu
sentava do seu lado e observava as letras, iguais as dos meus gibis. Eu fazia
perguntas sobre as letras e ela ia respondendo e explicando. Assim fui
aprendendo a ler, em casa mesmo. Quando cheguei à escola, para surpresa de meus
pais e da professora, eu já lia. Como no início, a curiosidade, a vontade de
aprender e a descoberta, são os elementos que fazem parte da minha história de leitura.
10. Ana Lúcia de Almeida Oliveira
Foi
muito interessante recordar como comecei a ler, pois nunca tinha feito essa
retrospectiva na minha vida. Recordei a minha chegada à escola aos sete anos.
Não foi difícil me adaptar, pois estudavam na mesma sala de aula, algumas
colegas que moravam na mesma rua que eu. A professora era muito rigorosa, não
sei como, eu e as minhas colegas a conquistamos, e dávamos pra ela toda
assistência que precisava. Ela tomava a lição dos alunos todos os dias sempre
no final da aula. Eu era muito tímida e com jeitinho, pedia para ficar por
último. Nunca dava tempo e eu ficava para o dia seguinte. Então, já sabendo
qual era a lição, pedia para minha mãe me ajudar em casa. No dia seguinte,
quando a professora tomava minha lição, eu já lia e não soletrava, pois além do
medo da professora, minha mãe já tinha lido muito comigo em casa. Lembro também
que meu pai comprou uma máquina de datilografia e deixava a gente mexer,
procurando as letras do nosso nome. Isto também nos ajudou muito.
11. Marly Maria Duarte
Recordo-me,
aos seis anos de idade, da minha mãe, sempre lendo várias revistas de
fotonovelas. Quando ela se ocupava em alguns outros afazeres domésticos, eu
pegava aquelas revistas, começava a folhear e ficava encantada com as figuras.
Aos sete anos, fui matriculada na Escola Domingos Sávio no Jardim da Infância e
lá, também, minha professora gostava muito de ler os grandes clássicos da
literatura infantil como: Rapunzel, Cinderela e Branca de Neve. Para mim aquele
era um momento mágico! Eu amava aquelas histórias porque tinha sempre um final
feliz. Com 8 anos, fui para a 1ª série e lá continuei aprendendo a ler. Foi
maravilhoso porque a partir daí eu já lia os textos dos livros didáticos e um
poema de Vinicius de Moraes – A Foca -, me marcou bastante. A professora
incentivava, pedindo muito que os alunos lessem em voz alta e eu queria fazer
bonito para minha professora e meus amigos da época. Tempos depois, nas séries
maiores, comecei a ler alguns livros para fazer trabalhos escolares, por
exigência dos professores de português. Li A moreninha e outros. Na verdade eu
sempre fui bastante curiosa com os números e me empolgava com os cálculos de
matemática. A curiosidade de ler foi ficando um pouco para trás. Hoje gosto
bastante de ler. Uma vez ou outra estou lendo, mas o corre- corre do dia-a-dia
não me deixa começar e terminar de ler os livros que seleciono e deixo no
criado mudo do meu quarto. Sempre começo e na maioria das vezes fica pela
metade.
12. Rosileide Ramos da Silva (Rosa)
Desde
muito cedo, sentia um desejo muito grande que ardia como chama no meu coração.
Que desejo era esse? Comecei a inquietar-me, pois este grande desejo só
aumentava mais e mais. Quando fui inserida na escola, percebi que este desejo
era a leitura que afluía dentro de mim. Ao ver a minha colega lendo, isto
despertou ainda mais este grande desejo, então comecei com as primeiras letras
e até hoje não consigo parar de ler. Embora não tendo a oportunidade de crescer
no ambiente letrado, meus pais me incentivaram a ler e escrever. Quando cursei
a 5ª. série, agora chamada de 6º ano, encontrei uma professora maravilhosa que
me ensinou Língua Portuguesa, como era chamada na época. Ela sempre mandava
comprar os livros de literatura tais como: Tronco do Ipê, A moreninha, Homero
homem, Meu pé de laranja lima, Senhora. Em seguida, pedia para preenchermos uma
ficha que acompanhava o livro, Eu tinha uma irmã e um irmão que cursavam a
mesma série que eu e não gostavam de ler. Então eu lia o meu e os deles, o que
me ajudou ainda mais a gostar da leitura. Eu gosto de ler, principalmente a
Bíblia! Já li umas 7 vezes e continuo lendo até hoje! Sei que a leitura faz
parte de minha vida. Sabemos que ler é viajar! Ler é viver!
13. Ana Paula de Almeida
Tenho
poucas lembranças, uma delas, é um relato da minha mãe dizendo: – Quando você
entrou na escola, tinha 7 anos de idade e iria cursar a 1ª série, pois nunca
tinha ido à escola, mas já sabia ler. Foi então que o diretor da escola
resolveu fazer um teste e percebeu que eu estava apta. Lembro, que, tinha um
pequeno dom, de traçar pequenas figuras, rabiscando a parede da minha casa.
Assim copiava o que via na minha frente como: figuras infantis e palavras.
Tenho guardado em minha memória, o nome de uma marca de eletro doméstico, um
ventilador, de marca BRITANIA, que escrevi na parede. No entanto, acho que a
minha aprendizagem, foi muito mecânica. E quando cheguei à faculdade, percebi a
gravidade do problema, pois não estava totalmente letrada. Acredito que o
método de incentivo à leitura não era adequado. Os professores da época
utilizavam métodos de aprendizagem mecânicos e não significativos. Como era uma
criança curiosa, gostava de ler o que via, aperfeiçoando a escrita. Assim os
meus erros eram poucos no processo de leitura e escrita das palavras. Mas a
minha dificuldade maior era de interpretar o que lia. Eu tinha uma excelente em
memória e por isso decorava com facilidade, mas sinto que tinha alguns
bloqueios de raciocínio, o que atribuo ao tradicionalismo dos professores e à
falta de estímulo dos pais. Hoje como adulta percebo a ignorância da época, de
não letrar os alunos e sim fazer com que eles apenas escrevessem e lessem de
forma mecânica, sem lapidá-los para formar cidadãos críticos.
14. Ana Cristina S. R. Cavalcanti
Quando
comecei a ir para a escola já sabia ler e enfatizo o que me marcou: tinha uma
boa leitura, gostava de historinhas de gibis com a turma da Mônica e também dos
livros que minha mãe comprava aos vendedores que passavam na rua: coleções e
enciclopédias. Gostava de olhar as ilustrações, os desenhos, as cores e as
fotos. Eu estudava numa escola do sítio em turma multisseriada, onde existia
muitas árvores, frutos, diversas frutas, árvores centenárias. A professora
valorizava a relação com o concreto e as aulas eram ministradas ao ar livre.
Durante 3 vezes na semana, a professora utilizava as folhas, os galhos, as
frutas. Frutas verdes, maduras, as sementes e os grãos. E daí fazia leitura de
palavras, frases, pequenos textos, ditados, contava histórias. Estas lembranças
ficaram bem marcadas, da minha época de adolescência. Depois, passei a
trabalhar como professora, dando aula de reforço em minha residência. Passei em
um concurso e fui lecionar em um local distante, onde ficava durante a semana.
Continuo trabalhando hoje com a educação do campo, pois é onde está a raiz de
tudo: a diversidade da aprendizagem, a fauna, a flora. Trabalhar a educação
partir do concreto é muito importante para a nossa vida, de mediadores que
somos, multiplicadores de sonhos, de beleza, de iluminismos, estrelas…
15. Silvia Helena Vasconcelos da Silva
Eu
aprendi a ler na escola aos 7 anos de idade. Apesar de meus pais serem letrados
não me transmitiram esse conhecimento antes da escola. Chorava bastante para
não ir à escola; eu queria mesmo era ficar em casa. Nunca tive muito contato
com os livros, apenas fazia as tarefas. Minha professora também não contribuiu,
ela não lia para nós. Mesmo assim, apesar de não ter essa relação intima com os
livros, hoje eu não consigo ver um professor numa sala de aula sem sentir
prazer pela leitura. Ele não pode transmitir ensinamentos a seus alunos sem
antes ler, pesquisar e estudar. A leitura está presente em nossas vidas, nos
leva a lugares incríveis e nos traz sabedoria para toda vida.
16. Marluce Maria da Silva Araújo
Sempre
gostei muito de ler, mesmo com as dificuldades da época de criança. Na
adolescência, gostava bastante de ler romance da época como Sabrina, Júlia, e
revistas. O primeiro livro que pedi a meus pais de presente foi A Bíblia
Sagrada que guardo até hoje. Lembro também de muitas noites para estudar para o
vestibular, onde eu colocava os pés em uma bacia com água para ficar acordada e
meu pai sempre vinha reclamar e me mandava dormir. Tinha meu diário e fazia
registro, todas as noites, dos acontecimentos do dia. Meus pais não tiveram
muito estudo. Eles estudaram até a 2ª série, porém, sempre incentivavam as 05
filhas a estudarem. Tanto é que das 05 filhas, 04 fizeram Licenciatura ou
Magistério. Devo tudo que sou hoje como leitora aos meus pais.
17. Elizângela Alves Pinheiro
Lembro-me
quando criança, sentada ao lado dos meus pais. Meu pai me presenteou com uma
coleção: O Reino Encantado e nesta coleção acompanhava os discos de histórias
infantis: – Chapeuzinho Vermelho; – Branca de Neve; – O soldadinho de chumbo; –
Os três porquinhos Ele gostava de colocar os discos para que eu escutasse e
depois me mostrava o livro, recontando a história, enquanto eu observava as
figuras. Na escola, minha professora, tia Socorro, também contava as histórias.
Eu gostava por que ela contava e dramatizava Chapeuzinho Vermelho assustada
quando foi a casa da vovó e a viu diferente. Pra mim, meu pai foi a pessoa mais
importante, seguido da minha mãe, na dedicação com que me incentivaram a gostar
da leitura.
18. Célia Cristina Silva Damascena
Aos
07 anos fui para escola, foi um momento maravilhoso onde descobri o despertar
pelas letras. Aprendi a ler e escrever. Tive como maior inspiração minha mãe
que sempre me presenteava com livrinhos de histórias. Ela gostava muito de
contar histórias como Branca de Neve, o Soldadinho de Chumbo e outras. Lembro
uma vez quando ela chegou do trabalho com uma coleção de livros com CD, então,
todos os dias, ela escolhia uma história e depois ouvia o CD. Foi um momento marcante
em minha vida. Hoje, como mãe, levo esse incentivo aos meus filhos. Aquelas
histórias que lia na infância marcou tanto minha vida que hoje conto para eles.
19. Márcia Maria Duarte A. Lima
Meus
primeiros contatos com livros foram burocraticamente didáticos. Só lia quando a
professora obrigava. Tinha que ler, responder a ficha, pois na prova de
Português sempre tinhas questões tiradas do livro. Me dá um arrepio quando me
lembro da obrigação de ler. Era muito chato. Quando criança, me recordo bem da
paixão que tinha por gibis. Mas, tem uma curiosidade nisso tudo: eu gostava de
ler as tirinhas de trás só para não perder tempo. Nunca fui um exemplo de
leitora, meu “negócio” mesmo era ler jornais e ficar sabendo de tudo que se passava
no mundo. Das recordações doces da minha infância tem uma coleção que realmente
aguçou a minha curiosidade: A série VAGA LUME. Esta coleção de livros com
histórias de ação e aventura me fez ter prazer em pegar um livro e só parar
quando lia a última frase.
20. Cristiane Maria Rodrigues Barros
Todas
as noites meu pai sentava-se na cadeira de balanço e ao redor, meus irmãos, eu
e minhas amigas, sentávamos no chão para ouvir as lindas histórias que ele lia
em um livro de capa amarela com letras vermelhas. Naquele livro podíamos
observar muitas gravuras coloridas. Ficávamos em silêncio ouvindo e prestando
muita atenção na história, que ele contava com tanto carinho. Ao terminar a
leitura ele sempre perguntava: – gostaram ? Em seguida, fazia perguntas e todos
íamos respondendo. No final, a pergunta era uma só: – Amanhã temos mais
história ? E a resposta era sempre a mesma: – Se durante o dia obedecerem à sua
mãe e à professora, contarei outra. Agora vamos dormir.
21. Marinete Maria dos Santos e Silva
Meus
pais não sabiam ler, mas, tinham uma oralidade muito boa. Isto me deixava
curiosa e ao mesmo tempo fascinada. Minha mãe reunia as filhas e crianças
vizinhas, fazia uma roda, sentávamos e ela contava várias histórias engraçadas.
Recordo-me de uma que falava da neve. Outra, que ficou na minha memória foi a
de João e Maria, que eles tinham uma madrasta má. Meu pai gostava de contar
histórias de literatura de cordel. Ele contava com tanta naturalidade que
parecia que tinha lido. Acredito que ele ouviu de seus pais. O exemplo dos dois
foi para mim uma escola: aprendi com a oralidade deles e fiz a ponte com a
leitura lê na escola. A lembrança do meu primeiro dia na escola não é boa: eu
vi a professora bater num aluno porque havia rasgado um livro. Eu saí correndo,
desesperada e pedi aos meus pais para não voltar a escola, mas eles não
concordaram. Então eu voltei e conclui os estudos.
22. Ana Paula O. S Almeida
A
minha relação com este mundo mágico da leitura foi iniciado na escola. Foi lá
que descobri as letras, as sílabas, as frases e os textos. A contribuição da
minha primeira professora foi marcante. Foi ela que incentivou o meu interesse
pela leitura dos gibis e dos textos literários. Foi ela que trouxe à tona o meu
amor pela leitura propriamente dita. Lembro-me também que na escola a
professora nos mandava ler anúncios, panfletos e outros gêneros. Assim se deu a
minha iniciação à leitura.
23. Cícera Maria da Silva Arouxa Gomes
Sempre
tive vontade de aprender ler e quando via os colegas irem à escola, eu ficava
triste por não ter idade de ser matriculada. Um dia nós mudamos de localidade e
a nossa casa ficava próximo da escola. Eu fugia de casa e ficava na porta da
sala, observando a aula. Então a professora me convidou para entrar na sala.
Esse foi um dia muito feliz. Cheguei a pular de alegria. Os meus pais eram
analfabetos, mas eu, não podia ver qualquer papel que tivesse algo escrito, que
aquilo me interessava. Assim eu ficava observando a aula e olhando os livros
dos colegas. Tempos depois, a nossa família precisou se mudar novamente, dessa
vez para a zona urbana. A minha mãe me matriculou na escola, mas eu já lia,
pois os meses que passei observando as aulas, foram inesquecíveis. Na 3ª e 4ª
séries tive uma professora que ensinava a gente a ler e dramatizar o que lia.
Aquilo me incentivava a criar e modificar histórias e os contos de fada faziam
os meus olhos brilhar.
24. Dayse Cristina Simão de Sousa
Ontem
(02/03/2011), ao relatar a minha primeira relação com a leitura, não consegui
resgatar profundamente este contato. Disse apenas que meu pai trabalhava
bastante e não tinha como nos ajudar (eu e minha irmã) e minha mãe nos levava a
escola e apenas verificava se tínhamos feito as tarefas. No entanto, depois de
um longo dia de trabalho, depois do jantar, fui descansar e comecei a refletir
sobre como realmente tudo aconteceu e me supreendi… Recordei-me que antes mesmo
de ir à escola, minha mãe costumava ler os clássicos infantis : A Bela
Adormecida, Branca de Neve, Cinderela, entre outros. Tinha também um livro que
temos até hoje, Histórias Bíblicas para crianças, antes de dormir. E eu adorava
ouvi-la, pois como ela era apenas uma adolescente (tinha 17 anos) sabíamos que
se divertia conosco, e depois de cada leitura, minha mãe sempre tentava
transmitir para nós algum valor, principalmente quando a história era bíblica.
Ao chegar na escola, não sabia ler, mas reconhecia algumas letras, o que me
deixava muito feliz e curiosa para aprender mais e ler para minha mãe e irmã.
25. Ana Maria S C de Oliveira
Tudo
começou na família, com um sentimento muito intenso, de uma relação de amor com
a minha irmã mais velha que eu chamava carinhosamente de mãe. Na época ela
tinha como leitura preferida as fotonovelas e os romances e isto despertou em
mim o desejo de aprender a ler para realizarmos conjuntamente as leituras. Aos
sete anos, na década de 60, entrei para a escola, mas não encontrei muito
incentivo por parte da professora. Ela era severa, usava método antigo, a turma
passivamente tinha que decorar tudo. Eu nem sei como aprendi a ler na primeira
série. De repente eu entendi tudo como num passe de mágica fiz as descobertas.
Lendo os romances, eu entrei no mundo dos sonhos, mas a realidade me chamava
sempre. O meu tempo era pouco para ler e ainda me imaginar fazendo parte
daquele mundo. Eu sonhava em ser personagem das histórias e mesmo diante das adversidades
da vida, continuo lendo bastante, gostando de romances, por ser romântica.
Durante a minha infância tentei ler o livro de Érico Veríssimo Olhai os lírios
do campo. Era um livro extenso e bastante complexo para o meu pouco
entendimento! Na minha adolescência voltei a ler novamente e já na vida adulta,
quando passei a ficar íntima do livro, ele se extraviou. Vou adquirir novamente
este livro que tanto me marcou, pois até hoje o meu olhar busca, admira e
namora os lírios do campo, que crescem lindos entre vegetações do campo e
desabrocham entre os espinhos da vida.
26. Memórias de uma leitora
Quando
adolescente, aos 13 ou 14 anos talvez, lembro-me que tive que ler e interpretar
três obras literárias, mas não me recordo ao certo se foi por livre escolha ou
por sugestão do professor. Já não me recordo quais foram os títulos de todas as
obras, porém uma me marcou profundamente porque sendo muito jovem e sem a
prática da leitura, eu lia e não conseguia compreender nada. Naquele momento,
cheguei a desistir do livro, mas jamais esqueci aquele título que de certa
forma me incomodou: Memórias de um sargento de milícias. Anos mais tarde, entre
os 18 e 20 anos peguei novamente o livro, experimentei e mais uma vez desisti.
Fiquei a pensar se a história era ruim ou se o autor era muito complicado. Os
anos se passaram e as memórias da minha primeira frustração enquanto leitora
não me abandonou. Li outros livros e comecei a compreender as leituras. Gostei
de uns; outros nem tanto, mas algo continuava a me incomodar. Certa vez, anos
mais tarde, passando por uma livraria numa prateleira bem em frente lá estava ele,
seu nome eu jamais esqueci: Memórias de um sargento de milícias. Logo percebi
que havia chegado a hora. Comprei o livro e dentro de dois dias o devorei, esclareci
o mistério que me perseguiu durante anos. Finalmente, compreendi o enredo do
livro e me envolvi com o personagem, que, diga-se de passagem, era bem
“presepeiro”. Amei esta obra e aconselho esta leitura a todos que gostarem de
uma boa história de amor e muita ação!
TURMA DA TARDE
O mesmo processo ocorrido no turno da manhã, que resultou na produção de 26 relatos, foi replicado no turno da tarde, ampliando o repertório com o acréscimo de 11 textos, que reafirmam as constatações anteriormente verificadas e incorporam destaques para a participação dos avós e das irmãs, no processo da formação de leitores.
1. Maria José Duarte de Duarte
Quando
era criança, eu gostava de ler, mas, a dificuldade de comprar livros era muito
grande. Então mamãe vendia galinhas, tomate, mamão, manga, cajá, caju, etc… e
comprava livros usados para os filhos lerem, com as vendas de frutas que
plantava no quintal da minha casa. Mamãe também recortava os jornais do
supermercado e dava para eu e meus irmãos lermos. Um dia, ao se aproximar o Dia
das Mães, eu queria recitar uma poesia e mamãe encontrou num jornal, que
enrolava o pacote de peixe. O jornal estava bem molhado e ela colocou no sol.
Depois me deu uma poesia que era assim: Se Deus ouvisse um dia Minha prece
ingênua e doce Não morreria uma mamãe, Por mais velhinha que fosse. Minha mãe
escrevia cartas para os amigos de minha família, que viviam distantes. Por
minha mãe ser a minha maior professora e alfabetizadora, minhas professoras não
tiveram muito trabalho comigo. Mamãe ensinava minhas tarefas de casa todos os
dias e acompanhava a nossa educação diariamente. Ensinava como sentar, comer
devagar, e etc. Eu sempre amei ler. Hoje eu leio um livro por mês; no recesso
escolar leio dois. Em janeiro e fevereiro, costumo ler dois livros. Um dos
livros que li e mais gostei foi O escravo Bernardino. É uma história linda! Foi
um livro muito vendido e é muito difícil encontrá-lo nas livrarias, mas eu
tenho um exemplar. Eu era uma criança muito sapeca! Rubenita diz que eu brigava
com ela, mas eu não lembro. Só me lembro que Rubenita era bem magra e tinha um
cabelo lindo. Eu fui uma criança pobre, mas muito feliz! Se tivesse de voltar
eu faria tudo de novo e completaria o que faltou viver, e não teria a vergonha
de ser feliz, como diz Gonzaguinha. Mamãe dizia que quando eu era criança, era
igual a uma música de Benito de Paula , que diz: – Eu sou como as borboletas
tudo que penso é liberdade Não quero ser maltrada Essa música é a minha cara!
As músicas fazem lembrar, com saudade, da infância.
2. Rubenita Maria Santana de Jesus
Iniciei
a leitura pela oralidade, com minha mãe Júlia contando as histórias bíblicas,
desde os cinco anos. Ela juntava todas as irmãs e sentava com a gente no chão
da sala. Então ela abria a Bíblia, aquele livro preto, e começava a contar, com
sua voz suave e serena. Eu viajava na história de Moisés, Ester, entre outras.
Sentia vontade de ver as figuras, mas ficava sempre na imaginação, pois a
Bíblia não era ilustrada. Comecei a estudar na casa da professora Amara
Malaquias, que nos ensinou a escrever mostrando figuras e mandando que
criássemos as nossas histórias, tiradas na nossa imaginação. Aprendi a ler e
escrever com a Carta do ABC e o livro Nordeste. Eu lia tudo que aparecia à
minha frente: contos de fada; Os três porquinhos; revista Bianca, A ilha
encantada, Juraci, entre outros. Mas me apaixonei quando ganhei um livro de uma
amiga secreta, Iracilda. Então comecei a ler todo tipo de leitura. Gosto de
vários autores: Paulo Freire, Emilia Ferreiro, José de Alencar, Manoel
Bandeira, Machado de Assis entre outros. Enfim, adoro ler! Lembro-me dos versos
de um poema: Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá…
3. Ana Rosa de Jesus Silva
Iniciei
minha vida de leitora ainda muito pequena, quando meu avô reunia todas as netas
no terraço de casa e nos contava muitas histórias. Ele tinha um jeito muito
engraçado de contar histórias. Lembro-me também que nessa mesma época, na
escola, a minha professora era a minha própria mãe e ela sempre contava muitas
historinhas. Lembro-me bem de uma história que ela contava: Tinta fresca. Era
muito bom! Quando comecei a ler, eu fazia muitas leituras. Nunca me esqueço de
O gato de botas, Oi passarinho, você quer ser meu amigo? e Joca Boboca. Mais
tarde, na graduação tive um professor que me incentivou muito à leitura. Foi o
professor João Constantino, que era o professor de literatura brasileira. Ele
sempre dizia: – Economizem no lanche e comprem um livro no final do mês. E como
discípula obediente eu assim o fiz. Porém, a principal incentivadora para que
me tornasse uma leitora, que me despertou o prazer em ler, foi a minha irmã
Arlene. Mesmo sem que ela falasse uma palavra sequer, eu observava que ela
sentia muito prazer nas leituras que fazia. Eu sentia vontade de ler do mesmo
jeito que ela e a partir daí, comecei a encontrar prazer nas leituras. Comecei
a sentir o gosto pela leitura.
4. Quitéria Isabel
Aprendi
a ler rápido, no tempo certo, com a idade dos 6 anos. No entanto, percebo que
durante os primeiros anos do ensino fundamental, eu não tinha maturidade para
entender, de fato, o que lia. Só a partir do primeiro ano do 2º grau, hoje
Ensino Médio, foi que consegui a proeza de ler e compreender de maneira
interpretativa – ou seja, aprendi, de fato, a ler. A exigência do curso, as
expectativas de futuro e as cobranças da vida prática, acredito que foram os
principais fatores que me levaram a perceber o quanto a leitura exige de nós,
que queremos despertar a sensação do entendimento, do aprendizado construído. E
assim, me descobri uma leitora completa, lendo diversos gêneros: romances,
contos, jornais, livros didáticos e outros. Por todos eu tenho interesse: seja
o título sugestivo de um romance; seja uma notícia local; seja um assunto
didático do momento. Até as sinopses de filmes, pois eu sentia a maior preguiça
de investigar o filme o qual estava prestes a assistir. Dessa forma, o meu
intelectual cresceu junto com a minha maturidade. Hoje, sou uma leitora –
pesquisadora, aproveito tudo que leio para por em prática na vida.
5. Vanda Ferreira Pinto Serafim
Eu
iniciei o meu gosto pela leitura, através de minha professora D. Telma Lúcia.
Aprendi a ler muito cedo, graças às outras professoras. A minha mãe tinha nove
filhos e costurava para fora; o meu pai, que naquela época era policial,
passava muitos dias fora e mal nos via acordados ou em casa. Nem minha mãe, nem
meu pai tinham tempo para ler histórias para nós, mas ela sempre nos tomava a
leitura, corrigia as nossas tarefas e nos orientava. Quando eu estava na quarta
série minha professora Telma Lúcia nos fazia ler, todos os dias, vários livros
de leitura. Eu me lembro muito do livro Pequeno Príncipe e Sítio do Pica-pau
amarelo. Acho que comecei ler de verdade, quando eu via a minha irmã mais velha
lendo romances como: Julia, Bianca e Sabrina. Comecei a ler escondido e cada
vez que eu lia eu queria ler mais e mais. Daí eu fui me interessando por outros
livros. Minha mãe sempre nos dizia que o sonho dela era ter sido uma
professora, mas infelizmente o pai dela, meu avô, não a deixava estudar. Ela só
fez até a quarta série e dizia que se pudesse, teria terminado e se formado. No
entanto, o tempo que lhe sobrava era muito pouco, e ela sempre nos dizia para
que nós nunca parássemos de estudar. Eu estudei e me formei professora. Foi
como se eu tivesse realizado o sonho de minha mãe. Sempre li, mas sinto que
preciso ler mais, para passar para meus filhos o prazer que a leitura nos dá.
6. Maria do Rosário Ferreira de Oliveira
Cresci
em um lar onde havia ambiente propício à leitura. Sou caçula de uma família de
oito irmãos e a minha mãe era professora, por isso, mantinha em nossa casa
muitos livros infantis, revistas e gibis para que não saíssemos de casa para a
rua. Meu pai, apesar de não ter cursado a escola além da 3ª série primária,
sempre gostou de ler jornais e de contar causos. Acredito que este hábito de
meu pai influenciou muito o meu interesse pela leitura. Sou fruto desse
ambiente. Fui alfabetizada no início de minha infância, mas só na adolescência
que me tornei uma leitora. Lia muitas fotonovelas, romances e gibis. Amava as
histórias de Zé Carioca! Deixada esta fase para trás, tive o prazer de ler os
livros de Jorge Amado, pois, o meu irmão Tota, comprou uma coleção completa
desse autor. Comecei por Pastores da Noite e confesso que não li todos os
títulos, mas posso afirmar que já devorei grande parte desse acervo. Também em
minha adolescência li, de Richard Bach : Fernão Capelo Gaivota, Longe é um
lugar que não existe e A ponte para o sempre. O autor que me fascina com sua
obra, até hoje, é Gabriel Garcia Marques! Gosto de ler e mantenho essa prática
até hoje.
7. Silvana Gomes Nascimento
Narrar
minha história com a leitura é relembrar flertes antigos, paixões avassaladoras
e amores eternos. Flertes antigos são o que denomino meu primeiro contato com
livros e histórias, chamados também de paqueras: os contos infantis, as
narrativas populares e de assombrações contadas pelo meu Avô. E as chamadas
histórias bíblicas, lidas por mim para minha avó querida e saudosa, que em sua
humilde sabedoria, desconhecia as leituras, mas apreciava as bem aventuranças celestiais.
Minha infância foi toda envolvida por estes flertes já mencionados, que vez ou
outra me pego relendo-os , deve ser paixão recolhida. Na adolescência, conheci
O Pequeno Príncipe. Embora tenha dificuldades em lembrar o nome do autor, mas
não atribuo o mesmo à narrativa e menos ainda as personagens. Afinal, “o
essencial é invisível aos olhos”. Na fase adulta, enveredei pelos romances
clássicos – amores eternos – conhecidos pelos nomes de Aluízio Azevedo,
Alencar, Castro Alves e o inigualável Machado de Assis com seus triângulos
amorosos que tanto intrigam, além da conversa com o leitor amigo.
8. Elisângela Maria da Silva
Foi
há muito tempo atrás, mas parece que foi hoje. Como diz o ditado popular: o tempo
não para. Tudo começou na minha infância, com minha mãe que adorava contar
histórias bíblicas para eu e minhas irmãs. Era muito divertido! Pedíamos para
ela contar várias vezes a mesma história e ela contava. A paixão pela
literatura começou a florescer a partir daqueles momentos. Lembro-me que eu
adorava olhar as imagens dos livros, que me chamavam muito a atenção. Minha
imaginação fluía; a leitura me fazia viajar e conhecer outros horizontes. Na
escola, a professora trabalhava com muitos textos. Líamos bastante, ela nos
mandava escolher entre os diversos livros expostos, àquele que nos chamasse
mais atenção. Quando ela fazia isto, eu escolhia o livro que tivesse mais
imagens. Houve um acontecimento na minha adolescência que me chocou. Foi quando
um professor pediu pare lermos o livro Triste fim de Policarpo Quaresma para
fazermos uma prova. Só que na prova não caiu nada sobre o livro e ficamos muito
chocados. Passei um tempo sem entusiasmo para ler, foi quando no Ensino Médio
encontrei uma professora chamada Adriana que mudou toda a minha história, pois
sabemos que ler é mágico, faz a gente amadurecer e sempre sonhar. Por isso, que
hoje eu sou uma verdadeira incentivadora da leitura, porque ler é transformar,
conhecer, sonhar, refletir, buscar, viver… É fonte inesgotável.
9. Elilde Maria Ramos
Éramos
cinco irmãos. Eu me lembro que sempre gostei de fazer as tarefas da escola,
mas, não tinha aquele gosto pela leitura. Lembro-me muito bem quando estudei na
Escola Paroquial São Miguel. A professora Dona Ângela marcou a minha vida, com
aquele jeito de menina, bastante carinhosa. Na hora do intervalo, nós, as
meninas, sempre gostávamos de brincar de professora, para imitar o jeito da
professora Ângela. Era tão bom! A minha mãe sempre acompanhava as tarefas de
casa. Mesmo sendo semi-analfabeta, ela se esforçava para incentivar os filhos
na escola. Minha mãe estava sempre ao nosso lado, fazendo as leituras,
soletrando. Sem dúvida, a minha mãe nos ajudou muito nesse processo de aprendizagem.
Na minha adolescência não dava muita importância aos livros, talvez porque lia,
mas não compreendia e aquilo não me dava prazer. Hoje, posso dizer que sou
leitora, porque agora sinto o prazer de viajar nas palavras.
10. Ana Rosa Sampaio V. Silva
Aprender
a ler foi uma experiência muito emocionante em toda a minha vida. Despertou a
minha curiosidade e uma necessidade enorme de ler cada vez mais. Eu costumava
não só ler, como também escrever aquilo que achava interessante para minha
vida. E hoje, procuro trazer isso para o meu convívio.
11. (não assinou)
Entre
as recordações maravilhosas da minha infância, revejo um lar cercado de afeto e
carinhos, rodeado de pessoas especiais, cultivando amor e respeito ao próximo.
Descobri que com a leitura alcançamos o mundo. Cresci cercada de vários
educadores, que me motivaram a aprender, incentivando a ligação com livros. A
minha mãe era gestora de uma escola de Estado e o meu pai, um homem correto e
justo. Tenho quatro irmãos e vivíamos numa casa ao lado da escola, por isso,
vivenciei aulas, palestras e reuniões, Cresci naquele ambiente educacional.
Dedicação é palavra que encontro para definir a minha mãe, cujo trabalho, como
educadora, desenvolvia admiravelmente... O resgate da memória revela que o amor
é o instrumento maior motivando assim todos os bons ensinamentos.
Quadro sintetizando livros, histórias e autores/as citados pelas professoras LIVROS CITADOS (incluindo gibis, fotonovelas, jornais):
A
Bela Adormecida; A ilha Encantada; A moreninha; A ponte para o sempre; Bianca;
Bíblia; Bolota; Branca de Neve; Brincando com as palavras; Carta do ABC;
Cartilha Nordeste; Chapeuzinho Vermelho; Cinderela; Fernão Capelo Gaivota;
fotonovela; gibi; Homero homem; jornal; Julia; Juraci; Longe é um lugar que não
existe; Luluzinha; Memórias de um sargento de milícias; Meu pé de laranja lima;
O escravo Bernardino; O patinho feio; O Pequeno Principe; O soldadinho de
chumbo; Olhai os lírios dos campos; Os Pastores da Noite; Os 3 porquinhos;
poema A Foca.Rapunzel; Sabrina; Senhora; série VAGA LUME; Sitio do Picapau
Amarelo; Triste fim de Policarpo Quaresma; Turma da Mônica; Tronco do Ipê; Zé
Carioca. HISTORIAS CITADAS Branca de Neve; Chapeuzinho Vermelho; Joca Boboca;
João e Maria; Moisés e Ester (bíblicas); O gato de botas; Oi passarinho, você
quer ser meu amigo?Princesas, fadas e comadre fulôzinha; Soldadinho de Chumbo;
Tinta fresca. AUTORES CITADOS (inclui músicos compositores) Aluizio Azevedo;
Benito di Paula; Cabral; Castro Alves; Cecília Meireles; Drummond; Emilia
Ferreiro; Erico Veríssimo; Gabriel Garcia Marques; Gonzaguinha; José de
Alencar; José Mauro de Vasconcelos; Joaninha de Sousa. Machado de Assis; Manoel
Bandeira; Richard Bach; Paulo Freire; Vinicius de Moraes.
Lindas memórias!!!!!!!
ResponderExcluirLindos relatos,parabéns pelo trabalho Roberto e pela preocupação em divulgar esse trabalho maravilhoso.
ResponderExcluirGostaria de pedir autorização para publicar em nosso informativo!
ResponderExcluirAcho uma ótima ideia. E tenho certeza de que todos os autores se sentirão honrados com o ensejo. Será uma forma de valorizar e difundir ainda mais um trabalho tão encantador. E melhor ainda: cada autor poderá receber um exemplar do informativo.
ExcluirNosso informativo é eletrônico. Já está no ar e segue por email para os nossos 829 assinantes.
ExcluirLink: http://ceelufpe.blogspot.com.br/2012/05/depoimentos-dos-participantes-do.html
O que eu pude perceber nos relatos a cima citados, é que todos tiveram um(a) mentor(a), alguém que serviu como exemplo para que essas pessoas tivessem desejos e gostos pela leitura.
ResponderExcluirGostei muito dos depoimentos acima, A postagem é muito rica, Parabéns pelo artigo Irmão Roberto de Queiroz.