Admmauro
Gommes*
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Roberto de Queiroz / reprodução do Facebook |
Roberto
de Queiroz dá uma guinada em sua poesia. Com lastros de filosofia, sua poética
adentra os caminhos da religiosidade e das essências atemporais do homem, que é
o deslumbramento diante do Eterno. É isso que tenho repetido recentemente: a
poesia não é para dizer nada, mas sempre diz tudo.
No
poema “Pot-pourri”, o autor mostra mais que o conhecimento profundo da poética
de nosso tempo, que enveredará sempre pelas metáforas cada vez mais fechadas.
Nesta linha, poderia citar pelo menos uma dúzia, em seu texto, mas para
demarcar o território deste novo tempo robertiano, transcrevo apenas “... taça de carne de Salomão”. Na verdade, é
preciso ter um conhecimento milenar, rompendo a costumeira interpretação do
sagrado para se compreender apenas um verso.
Nisso
Vital Corrêa de Araújo tem razão: um verso vale mais que uma odisseia.
Correção: um verso grandioso, como qualquer desses de “Pot-pourri” do
pernambucano Roberto de Queiroz.
Eis
o poema em comentário, na íntegra:
“I. O olho do sol do polo Norte se
fecha, congela o vento e cristaliza a neve: açúcar do confeito da Terra.
II. O olho do segundo sol se abre e
realinha a órbita dos planetas: marionetes do dedo do Universo.
III. A mistificação do purgatório
prognostica a idealização do inferno de Dante: consequência reflexa de crenças milenares.
IV. O achamento do paraíso perdido e a
perda do paraíso recuperado de Milton ensaiam sobre a cegueira de Saramago:
retrato fidedigno do materialismo.
V. Na taça de carne de Salomão, o vinho
é certamente mais aromático e mais saboroso que nos pseudocristais modernos e
provavelmente há ali toxidade zero: êxtase cromático do cântico dos cânticos.”
* Admmauro Gommes é poeta, professor de Língua Portuguesa, Teoria Literária e Literatura
Brasileira da FAMASUL (Palmares/PE)