A maioria dos estudantes brasileiros dos níveis
fundamental e médio é reprovada em avaliações externas. Isso é fato veiculado
pela mídia. Há quem afirme que, nesse caso, a responsabilidade é do professor.
Em se tratando de professor que trabalhe em escola que lhe ofereça todo um
suporte infraestrutural e pedagógico, essa afirmação pode ser verdadeira. Caso
contrário, ela pode não fazer sentido, ou seja, a responsabilidade deixa de ser
apenas do professor.
É importante ter senso de realidade em relação aos
programas de ensino antes de adotá-los (ou não). Os municípios precisam
analisar cuidadosamente os programas de ensino que aplicam, a adequação do
material didático e os mecanismos de apoio ao professor. “Mas, principalmente,
parar de atrapalhar a escola criando e recriando programas” (João Batista
Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto).
Como professor da rede pública, há mais de doze
anos na educação básica, convivi/convivo com essa enxurrada de programas
“criados” e “recriados”, aos quais João Batista se refere. Muitos deles com
metodologias que se antagonizam, como é o caso do Alfa e Beto (usa o método
fônico e é indicado para o pré-escolar I e II) e o Alfabetizar com Sucesso (usa
o método silábico e é indicado para os anos inicias do ensino fundamental),
adotados por alguns municípios de Pernambuco. Há casos em que, paralelo aos
programas sobreditos, acrescenta-se o programa Via Escola (usa o método global
e é indicado para os anos inicias do ensino fundamental).
Não defendo a tese de que os métodos usados por
esse ou aquele programa sejam ineficientes. O
problema é que os governantes não visam o alvo. Atiram aleatoriamente para
todos os lados. Por que não ouvir os gestores, os coordenadores pedagógicos e
os professores, a fim de saber qual programa se adéqua melhor à realidade dos
estudantes? Ou por que não dar autonomia aos municípios para que eles construam
seu próprio currículo pedagógico, em consonância com as características locais
e as diretrizes nacionais?
Afinal, passou da hora de tomar medidas enérgicas
aptas a controlar a qualidade do ensino público brasileiro. Para tanto,
impõe-se abandonar o faz de conta e olhar de frente o gargalo da educação
básica: infraestrutura precária, material didático deficitário e enxurrada de
programas com metodologias antagônicas. Quer dizer, sem dar condições ao
professor para desempenhar sua função, ninguém pode responsabilizá-lo pelo mau
desempenho da maioria dos estudantes dos níveis fundamental e médio em
avaliações externas.
(Artigo
publicado na Folha de Pernambuco,
29/07/2013, Opinião, p. 10)