Translate

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Simenon, Hammett de bombacha e mate

W. J. Solha

O nome do homem – vê-se que descende de alemães – é Nelson Hoffmann, de Roque Gonzales, Rio Grande do Sul, o advogado, contabilista, que criou um personagem excepcional, o advogado, contabilista, Dr. João Roque Landblut – vê-se que descende de alemães –, espécie de Holmes e Maigret amador, de Três Martírios, Rio Grande do Sul. Esse Landblut, já bastante conhecido por casos anteriores – tendo sido o principal O Homem e o Bar (romance de 1994) –, fatalmente se tornará famoso, agora, com A Mulher do Neves – coedição Ledix e Editora da URI, 2013.

Melhor do que Landblut, no entanto, se isso é possível, é a figura do título – mulher do Neves – a escultural, riquíssima, generosa e enigmática vítima de um crime que acaba de acontecer quando o relato começa... e que vai sendo construída aos poucos pela investigação solicitada pelo viúvo, que é o maior cliente do escritório do investigador bissexto e ... o maior suspeito do crime.

Quando se fala em romance policial no Brasil, a referência é, de imediato, Ruben Fonseca, também advogado, admito, mas basta uma comparação entre A Mulher do Neves e A Grande Arte, por exemplo, pra se constatar que – além disso - um não tem nada a ver com o outro. Veja a ficha do personagem principal do carioca: Mandrake: Advogado com tendências a detetive, solteirão irresistível às mulheres, extremamente sedutor. Aprecia vinhos finos e charutos. Ok, admito, há uma conta de chegar. Mas Landblut é casadão, paisão, viciado em cerveja e cigarros. Mas não é só isso: Ruben Fonseca é o tipo do autor que gosta de exibir minúcias técnicas... eruditas: vira páginas falando de punhais, v.g., como Umberto Eco faz com os detalhes de um portal gótico em O Nome da Rosa. Hoffmann, não: tudo é muito mais simples nas coxilhas missioneiras, embora não menos instigantes, porque misteriosas. Porque o tema é o ser humano, sempre. Hoffmann, porém, é mestre nos detalhes. Em seu primeiro romance – A Bofetada, de 1978 – ele já impressiona pelo que consegue – de fabuloso - ao fazer um tímido excitadíssimo observar, deitado sob uma figueira, a chegada de uma jovem que também – intensamente – o deseja. Daí que Landblut esmiúça as fotos da bela morta e todas as outras, dela em vida – mantidas pelo único fotógrafo da cidade –, num macete proveniente, talvez, do Blow-up de Antonioni (ou do anterior Las Babas del Diablo, do Cortázar), matando-nos de impaciência.

E a genialidade de Hoffmann está justamente nesse seu pesquisador com as limitações que nos fazem sentir – literalmente – taquicardia – quando sentimos que poderíamos auxiliá-lo, alertá-lo, nas pesquisas, o que acaba criando um suspense suplementar extraordinário. 

Ô, leia o livro.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A origem do São João

Roberto de Queiroz

O São João é resultante da aglutinação dos cultos pagãos em louvor à terra e em alusão à data de nascimento do santo católico João. Foi trazido para o Brasil por influência portuguesa. Os pesquisadores do folclore junino consideram Portugal como o país que conseguiu reunir ao seu espírito religioso as crendices, adivinhas, agouros e superstições de cultos desaparecidos, muitos deles de origem pagã. Pela mão do colonizador, o costume de festejar o São João entrou para o Brasil e ficou. Passou do ambiente rural para a cidade e, nela, procura-se reviver os costumes rurais. Daí os trajes, a comida, a música, a dança e o jeito de falar que remetem ao colonizador.

(Texto publicado na Folha de Pernambuco, 12/06/2013, Cidadania, p. 8)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Escolas sem bibliotecas

Alguns teóricos educacionais dizem que as atividades de leitura e escritura têm sido trabalhadas na escola de forma isolada e descontextualizada, isto é, sem que se leve em conta suas condições de produção (quem lê/escreve, para quem, com que objetivo, lugares sociais dos interlocutores, etc.). Esses teóricos, porém, não atentam para o fato de que o ensino e a aprendizagem de leitura e escritura também estão relacionados ao espaço físico da escola. E esse espaço inclui prioritariamente biblioteca. Mas em muitas escolas das redes municipal e estadual de Pernambuco (e por que não dizer do Brasil?) não há bibliotecas. Em algumas delas, os livros são amontoados em armários, fechados em depósitos, o que, na verdade, está muito aquém de surtir o efeito de uma biblioteca, tanto do ponto de vista do espaço físico quanto do valor semântico-pragmático dos vocábulos armário e biblioteca, no tangente ao incentivo à leitura e à escritura.

(Texto publicado no Diario de Pernambuco, 07/06/2003, Cartas à redação, p. B6)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Um dos problemas centrais da profissão docente

António Nóvoa

Esse é um dos problemas centrais da profissão docente: a sua “dependência” de um conjunto de pessoas e entidades que não estão “dentro da profissão”.