O professor bonzinho é aquele que
não se preocupa com o programa da disciplina que leciona, nem é exigente em
sala de aula, pois, para ele, exigir do estudante é ser carrasco. E ser
carrasco, ser cruel com o estudante, é coisa que não almeja para si. Ele faz
todas as vontades do estudante, mesmo que elas o prejudiquem. Se não as fizer,
como ganhar a amizade e a simpatia dele?
O professor bonzinho não se
utiliza de ludicidade em suas aulas. Ele faz graça para o estudante rir. Faz
caçoada no horário destinado a aplicar o conteúdo da disciplina. Às vezes, faz
até mágica para alegrar o ambiente da sala, a qual, nesse momento, deixa de ser
sala de aula para virar picadeiro.
O professor bonzinho passa o ano
inteiro fazendo sondagem. Todo dia o estudante é sondado. E, por meio dessa
sondagem, ele é diagnosticado como incapaz de apreender o conteúdo programático
da disciplina. Se é que o professor bonzinho tem um programa de disciplina.
Para que se dar ao trabalho de elaborá-lo? Fazer caçoada não dá trabalho nenhum
e ainda diverte.
O professor bonzinho viola tanto
o direito daquele estudante que tem condição de ser promovido quanto o direto
daquele que não o tem – e, para seu próprio benefício, deve ter uma nova
oportunidade de aprendizagem –, apenas para não ser antipático com ele. Porém
não sabe o professor bonzinho que ser simpático não significa ser irresponsável
nem desonesto, e que ser exigente não significa ser antipático nem mau.
O professor bonzinho é, na
verdade, um lobo em pele de cordeiro, porquanto esse estudante, que não é
cobrado pelo professor bonzinho, será cobrado mais adiante, tanto pelo sistema
quanto pela escola da vida. O professor bonzinho causa-lhe, pois, um aleijão
irreparável.
O professor bonzinho finge que
ensina e o estudante finge que aprende. E, por esse motivo, o professor
bonzinho presta um desserviço à educação.
(Artigo publicado originalmente
neste blog, em 25/04/2012, e republicado no Diario de
Pernambuco, em 02/04/2015, Opinião, p. B7 [Arte: SAMUCA/DP])