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sábado, 5 de abril de 2025

A polarização de opiniões nas redes sociais

Roberto de Queiroz
Em seu livro “A águia e a galinha”, Leonardo Boff afirma que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Essa afirmação sugere que a compreensão humana da realidade é limitada e influenciada pela forma que as pessoas percebem as coisas. Ou seja, cada indivíduo observa o mundo através de uma lente particular, e esta pode não capturar a íntegra do contexto ou da verdade. Trata-se de um princípio básico, porém frequentemente ignorado no universo acelerado e polarizado das redes sociais, onde muitas pessoas tendem a buscar atenção para si e a exibir o que estão fazendo.

As redes sociais foram criadas com a finalidade de estabelecer conexões entre indivíduos. O propósito era claro: permitir que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pudesse se expressar e ser ouvida. É evidente que, por um lado, essas plataformas representam um avanço considerável nesse sentido. Todavia, por outro lado, elas configuram um local em que as opiniões quase sempre se confrontam de forma irreconciliável. Afinal, quem, achando estar com a razão, estaria disposto a aceitar o ponto de vista alheio?

É curioso observar que, nas redes sociais, muitos indivíduos se apegam às suas crenças como se elas fossem absolutas e representassem uma verdade universal. Essa realidade é peculiar e lamentável ao mesmo tempo. O que deveria ser um espaço propício à reflexão e ao compartilhamento de opiniões se tornou um campo de batalhas verbais, onde a arrogância e a prepotência prevalecem sobre o diálogo, a empatia e o respeito mútuos.

As redes sociais estão repletas de pontos de vista isolados, por meio dos quais várias pessoas reafirmam as próprias crenças e valores, ignorando a possibilidade de contraditório. Ali, cada comentário ou postagem é uma porta para um mundo particular que se assemelha a uma bolha de ideias congêneres. Os indivíduos vestem suas ‘verdades’ como armaduras, e as discórdias se multiplicam, gerando distanciamento em vez de aproximação. Opiniões diferentes não se encontram. Elas ficam separadas como ilhas distantes, cercadas por mares inavegáveis.

O cerne do problema não está na divergência de pontos de vista. Ele reside no fato de que um número expressivo de usuários das redes sociais não reconhece que sua visão de mundo é limitada. Além disso, não reconhece que a visão de mundo do seu interlocutor, embora diferente da sua, pode ser igualmente válida.

Em suma, as redes sociais oferecem um palco amplo para exposição de ideias. Mas, nesse palco, quase ninguém está disposto a ouvir com atenção ou a dialogar. Uma forma de minimizar tal problema é entender que as opiniões alheias não são uma ameaça, e sim uma oportunidade de ampliar o próprio conhecimento. Para isso, é preciso se permitir desviar do caminho habitual, adotando novas perspectivas e considerando pontos de vista alternativos.